Um abraço sem palavras
Cecílio também se lembrou de um outro menino que sempre comprava as coisas erradas na mercearia e tinha que trocar.
Mandava comprar quentro, trazia salsa; farinha de cuscuz, por farinha de mandioca, peixe fresco por salgado e por aí, ia... Quando chegava em casa, a mãe dele dizia:
— Ô Nêgo burro! Ô Nêgo burro! Ô Nêgo burro! Vá trocar! Tá errado!
E foi assim por muitos anos.
Um dia, indo até o Banco do Pedro, o acesso era por uma antiga estrada de ferro de dois quilômetros e desativada, a mãe do menino ia caminhando com ele e se deparou com uma tropa de burros no caminho, e não conseguiam passar.
Então, ela pegou um galho de árvore e começou a tanger os animais:
— Sai daí, Burro! Sai, Burro! Xô Burro! Sai daí, burro!
— Já saí, mãe! - Respondeu o menino - já do outro lado da linha.
A mãe, sensibilizada, abraçou-o sem dar nem uma palavra.
E a partir daquele dia, nunca mais chamou o filho de burro.
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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "Rio do Braço" (Romance Histórico) de Osman Matos, publicado em 2015 pela Editora Mídia Joáo Pessoa, PB (LANÇADO EM 2016 NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS) e pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso, 2017.