O FILME – O CHIMBICA E AS BOMBINHAS

Eu continuo no mundo cinematográfico do tempo de piá, menino. Desta feita, não no matine, mas na sessão do sábado das 21h45 min. Todo o filme que passava no Cine Luz de minha cidade, aos sábados, repetia-se aos domingos, na matine. O filme nesta noite era um Bang Bang. Claro, nem podia ser outro, 80% das exibições eram Bang Bang. Haja tiros. Pois bem! Lá estava assistindo o filme o piá chamado “Chimbica”, este era seu apelido. O apelido é decorrente de sua semelhança com o palhaço “Chimbica”. Chimbica gostava muito de soltar bombinhas, era conhecido na cidade. Escutava-se um estouro de bombinha, podia saber que Chimbica estava por perto. Ele via uns cachorros de rua ”reunidos”, não dava outra, podia esperar que logo entrava em ação, calmamente ia se aproximando e ... BAM BAM... das bombinhas, pronto, estava encerrada a reunião canina. Restava tão somente as gargalhadas do Chimbica. Ele gostava também de fazer foguete. Foguete para ele era estourar uma bombinha em baixo de uma lata, normalmente de massa de tomate. Quanto mais alto ia a lata, mais feliz ele ficava e também seus assistentes, a piazada.

Voltamos ao filme, Chimbica estava extremamente concentrado, gostava de Bang Bang. Claro, tinha tiros, estouros. O cinema estava lotado. Chimbica, como sempre, com o bolso da calça cheio de bombinhas. Junto com as bombinhas tinha uma caixa de fósforos, material indispensável a fim pretendido. Distraidamente ele começou a esfregar bem mansamente o místico da caixa de fósforos na ponta de uma bombinha. Claro, como falei, ele tinha uma impulsão por estes dois ingredientes, bombinha e fósforo. Repentinamente, de tanto esfregar, não deu outra, ACENDEU e a bombinha começou com aquele barulho próprio, característico antes de explodir, Chiiiii... Chiiii..., e daí uma bombinha foi passando para a outra, todas foram acendendo, e os "Chiiii..." aumentaram. Chimbica ficou desesperado, dias depois assim me confidenciou. Estava dentro do cinema e no desespero conseguiu tirar algumas do bolso, saiu correndo para fora do cinema e junto com a corrida acompanhou os estouros, estampidos das bombinhas. Agora o “tiroteio” não era só no filme de Bang Bang, era também dentro do cinema. Não precisa nem dizer, era só gente escondendo-se atrás dos acentos, outros deitavam no chão. Um corre-corre danado, o responsável pelo cuido do cinema, o vigia, com uma lanterna procurava saber o que estava acontecendo, desespero total. Não é estória, é História. As luzes do cinema foram acesas, o filme foi interrompido, daí tudo foi se acalmando, se chegou à conclusão que tinha sido só as bombinhas, nada mais. Ninguém sabia quem era o responsável, o filme teve seu reinicio, desta feita com os "BAM BAM" vindo só da tela.

Chimbica teve uma queimadura forte na perna, demorou em se reestabelecer. A cidade tomou conhecimento de seu restabelecimento quando novamente se ouviu o retorno dos estouros do Chimbica. Os cães de rua novamente passaram a não ter mais sossego. Rsrsrs... THE END.