"A lenda da mulher sucuri"
Roberval estava embarcando sozinho no bote para fazer o que mais gosta nas suas férias: pescar. E não havia cenário mais propício para esta atividade do que o Pantanal. Hospedou-se em Aquidauana, e no rio que leva o nome da cidade tinha planos de fisgar alguns peixes com tamanho acima da média. Quando juntou as tralhas e ia ligar o motor do bote, foi abordado pelo seu Damião, um velhinho crioulo bom de prosa, que vendia ervas, penduricalhos e alguns patuás...
- Bom dia, seu moço... Tá indo pescar? Não quer levar um colar de citronela não? Protege contra a dengue e contra o olhar da Mulher sucuri...
- Quanto é? O senhor tem maquininha de cartão de crédito?
- O sinhô tá mangando da minha pessoa?
- Não! Só revidei a sua lorota sobre a Mulher-sucuri!
- Tá certo... boa pescaria pro sinhô!
Roberval fez um semblante de desprezo, ligou o bote e arrancou rio adentro, até achar um lugar vazio para que pudesse fazer em paz a sua pesca. Junto às tralhas, havia uma caixa de isopor contendo algumas latinhas de cerveja gelada que ajudavam a incrementar o seu passatempo.
Os peixes não apareciam, mas a cerveja estava deliciosa e o cenário do Pantanal ajudava a ter paciência para aguentar o mormaço. Foi nesse momento que bateu uma certa "zonzeira". Queda de pressão, ou de glicose, talvez...
No auge do mal estar, procurou a margem do rio. E de forma surpreendente, visualizou uma morena hipnotizante abraçada ao tronco de uma frondosa árvore nativa. Tinha cabelos negros como a asa da graúna, pele bronzeada de mulher pantaneira e olhar penetrante. Os trajes de banho aumentavam sua sensualidade. O coração de Roberval bateu acelerado, e ele dirigiu-se trôpego àquela senhorita misteriosa. Sequer lhe deu um boa tarde. Ela deixou de envolver a árvore frondosa para envolver-lhe num abraço apertado e sufocante, abrindo sua boca carnuda como quem quisesse dar um beijo ardente.
Devorou faminta o pescador amador, que em êxtase, já estava dentro dela, supondo uma coito instintivo e animalesco. Hipnótica, a Mulher sucuri saciou sua fome. O bote ficou à deriva no Rio Aquidauana, e o pessoal da pousada até agora está esperando Roberval para fechar a conta da hospedagem.
Infelizmente, isso não vai acontecer, pois ele se tornou almoço de um ser maravilhoso, entre a serpente, e a estrela. E pensar que o colar de citronela do seu Damião custava a bagatela de míseros quinze reais...
* O Eldoradense