MEDO E PAVOR DA MACUMBA DO DOUTOR

Esse relato faz parte do meu livro: Severino de Vevé o Contador de Causos.

Dos casos e “causos” aqui relatado este é bem verdadeiro, e vem da cidade de Jequié-Bahia, onde um profissional da área de saúde adorava de maneira muito bem humorada, inventar boatos, deixando os camaradas algumas vezes em situações embaraçosas, principalmente com as esposas, aconselhando-as a tomarem mais cuidado com seus respectivos maridos, mas depois do desmerecido esporro, ele dias depois telefonava e dizia ser brincadeira, o doutor adorava pregar “peças” nos amigos.

Este é um caso verídico, o qual levou mais de três meses sendo executado, e foi por mim acompanhado, sendo-me relatada cada ação cometida, novas movimentações com seus efeitos e resultados, contando claro com apoio de alguns cúmplices.

Certa tarde como era de costume degustamos o cafezinho oferecido pelo saudoso querido amigo João Queiroz, gerente do Banco do Nordeste, esses poucos minutos eram recheados de prosas e piadas nos encontros dos amigos. Nesse dia a conversa desenrolou para o lado do misticismo, umbanda, candomblé e o poder dos “ebós”.

Cada qual contava um caso sobre feitiços e o poder da magia negra, onde o final era sempre maldade feita a alguém. Um fazendeiro achou de dizer que tinha medo, verdadeiro pavor, pois já tinha dois casos na sua família, onde o estrago foi enorme, inclusive além de separação conjugal, um primo foi acometido de uma doença a qual mexeu com seus nervos, seus miolos, segundo ele o parente ficou abilolado.

Não restou outra; o doutor em “PAI DE SANTO” se transformou, dando para perceber que boa coisa não estava para acontecer. (Rindo). Na semana seguinte foi na feira comprou um alguidar, azeite de dendê, um bife, e no abatedouro sangue de galinha; armou o “bozó” e durante a madrugada arriou na porta do fazendeiro medroso. Dia seguinte o fazendeiro tinha consulta pela tarde. Aguardou, aguardou e o fazendeiro nada relatou, mas demonstrando tristeza. Fingindo nada saber disse:

- Que cara amarrada é essa Apolidário, parecendo até que viu fantasma? (Nomes trocados)

- Bem pior que isso doutor Serafim, tão querendo fazer maldade com a minha pessoa.

- Como assim, alguém falou mal de você para sua esposa, inventaram alguma calúnia? Com você eu não faria isso, pois sei que a sua senhora lhe meteria o sarrafo.

- Antes fosse... A minha mulher já acostumou com as suas graças. Vou lhe contar em reservado. Fizeram macumba para mim, hoje quando acordei estava no meu passeio bem em frente ao portão.

Se eu fosse autoridade mandava proibir essa gente de fazer essas mandingas. Por mim todos iam para o xilindró.

- O que tinha no trabalho?

- Carne fresca, farofa de dendê e outras duas brancas, uma garrafa de pinga e charutos.

- Ainda bem que não teve sangue, aí seria mais perigoso, bem mais pesado, com sangue é trabalho alimentando o “Exu Tranca Tudo”.

- Mas doutor Serafim, não me diga, pois tinha também um sangue escuro.

Dias depois, outro, e mais outro e o Apolidário sempre relatando as investidas do macumbeiro. O Serafim telefonou para um amigo dizer que resolveu caso igual colocando um segurança à noite, e claro indicou o seu de confiança, um funcionário da guarda municipal, um cabra valente conhecido como Índio. Na terceira noite de trabalho de prevenção ante macumba, a obrigação foi colocada dentro da varanda, e o índio sentado em frente ao portão, jurou que por ele ninguém passou. Nessa, em vez de carne de boi foi colocado um fígado cortado ao meio com umas porcarias dentro.

Aí, o fazendeiro Apolidário pirou de vez, e como sempre, foi desabafar com o doutor Serafim, que disse conhecer a fama e a maneira séria do guarda municipal trabalhar. O homem já desesperado dormia de dia e passava as noites quase em claro observando da greta da janela, e realmente via o guarda em serviço duro, sem se afastar do portão, apenas levantava dava uns passos e voltava para sua cadeira. Mas dessa vez o acesso foi pelo jardim do também cúmplice vizinho, e usando pequenas escadas, e feito de maneira tal, que nem o vigilante percebeu. Tal brincadeira deixou o Apolidário tão envolvido e crente de ser verdade que resolveu vender a casa e comprou outra mais próxima do centro e da igreja de Santo Antônio, padroeiro da cidade.

Chynae
Enviado por Chynae em 16/07/2020
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T7007363
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