01 - UMA VIAGEM ADIADA
 
Hoje, no limiar de minha terceira idade, já nessa condição de um cidadão septuagenário, na medida do possível, procuro seguir, quase à risca, o que diz o teor descritivo de uma canção brasileira intitulada “Tocando em Frente”, de autoria dos cantores e compositores brasileiros Almir Eduardo Melke Sater e Renato Teixeira de Oliveira.

Destarte, após ter ouvido atentamente essa canção e vivenciado a beleza e os detalhes de cada verso poético que a compõe, ainda que esse alguém estivesse embevecido pelo som e ritmo dessa belíssima música, mesmo assim, seria muito difícil não se sensibilizar de algum modo, ao olhar aquela frágil criança deitada, ali, naquela cama rústica, com aquele olhar tristonho, dando a entender que não estava pronta para morrer naquela noite.

Essa criança à qual o autor se refere, era o menino BILLY LUPÉRCIO DANIEL, o personagem central dessa primeira história e de outras que virão na sequência de suas publicações neste portal literário.

Na qualidade de autor e relator desses contos, em que, com muita honra, narrarei detalhes de lembranças de episódios reais vividos por esse menino que, por um aborto de sorte, sobreviveu à enfermidade que lhe afligia nos seus primeiros anos de vida e mesmo assim ele pôde crescer sadio e permanecer vivo até hoje.

Faz-se oportuno salientar que a maioria das pessoas presentes naquela triste noite, a qual mais parecia um pré velório mirim, não acreditava que Billy chegaria ao amanhecer do dia seguinte. Aquela noite parecia ser a mais longa de todas que ele já tinha vivido até então.

As pessoas conversavam intensamente entre si; umas tomavam cafezinho e outras matavam parte de seu tempo, ingerindo alguns goles de cachaça e, daquela maneira, as horas que lhe restavam, ou melhor, as que todos ali presentes entendiam estivessem ainda reservadas para a permanência dele aqui no planeta Terra, aos poucos, iam se esvaindo.

Em meio às opiniões das pessoas ditas mais experientes e às daquelas vistas como seres dotados de menos conhecimentos, as discordâncias havidas entre elas, aos poucos, iam se tornando as mais variadas.

Há um ditado popular português que está a nos ensinar que “quem tem padrinho não morre pagão” e foi justamente isso o que aconteceu. Não obstante o fato de Billy já ter sido batizado e seus padrinhos já estarem convencidos de que a viagem de seu afilhado para a morada celestial já estaria próxima, para contrariá-los, assim como aos demais vizinhos e amigos ali presentes, que igualmente demonstravam um ar de puro descrédito, sua cura, finalmente, chegaria a galope.

Enquanto todos velavam de forma resignada, a suposta partida do moribundo, havia uma senhora que apresentava um semblante bem mais otimista que todos eles. Seu otimismo era tão contagiante que dava a entender a todos que estavam ali, que ela era a única pessoa a não acreditar que a viagem precoce daquele menino para a dimensão extraterrena já tivesse sido decretada e confirmada para aquela noite, pelo desígnio do nosso Pai celestial.

Muitos disseram que Billy contou com o fator sorte, o qual esteve condicionado ao aparecimento daquela criatura, ou melhor, ao surgimento daquela alma benigna (uma benzedeira local) para lhe socorrer a tempo; outros acreditam que teria sido tudo aquilo, combinado com a ajuda de outros fatores sobrenaturais alheios ao entendimento humano, que culminaram com o adiamento e de modo prolongado da partida daquele garoto.

Naquele momento, ao vir os olhos piedosos do menino e o seu estado físico minguado, aparentemente, desnutrido, contrastando com aquela sua vontade imensa de viver, a senhora visitante afirmou que não era chegado o momento daquela alma mirim partir. Além de ter feito uma oração naquela hora, ela disse aos pais que tinha conhecimento de um remédio caseiro que seria “tiro e queda” para aquela situação periclitante que afligia o filho deles.

Outrossim, ela teria alertado, piedosamente, os pais da criança para seguirem à risca a orientação medicamentosa passada por ela; em seguida pediu para que todos orassem bastante na intenção do pronto restabelecimento da criança, até porque naquela região, precária de tudo que o era, não havia, sequer, naquele momento, um profissional da saúde (um médico ou um enfermeiro) capacitado e disponível para prestar os primeiros socorros para aquele doente.

Às vezes, somos muito céticos em vários momentos de nossa vida e deixamos de ouvir a voz do povo, que sempre representou a voz de Deus, por entendermos que só os letrados, sobretudo os formados em boas escolas técnicas e/ou em universidades, é que detêm a sabedoria nos seus ensinamentos, mas isso tem sido um ledo engano.

A sabedoria popular, desde os primórdios de atuação da humanidade aqui na terra, tem ajudado sobremaneira em todos os setores da vida; não é à toa que a ciência farmacêutica e alguns setores da medicina procuram andar de braços dados com os ensinamentos advindos dela, criando e recriando seus conceitos, consuetudinariamente falando e de uma forma bem mais abrangente.

“VIVENDO E APRENDENDO A VIVER”, que faz sua estreia com o causo, "UMA VIAGEM ADIADA" nos trará revelações de episódios reais vividos pelo personagem Billy, que serão mostradas ao longo deste capítulo e de outros que serão postados oportunamente. O seu todo comporá essa série de causos ora iniciada, cujos detalhes temporais ilustrarão particularidades de sua infância e de sua adolescência; no cômputo geral, essa mistura do seu passado com a realidade do seu presente, é o que o têm encorajado, diuturnamente, a continuar tocando sua vida em frente e, naturalmente.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 12/07/2020
Reeditado em 12/12/2020
Código do texto: T7003880
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