A FESTA DO TRI DO BRASIL E O TENENTE
Em 21 de Junho de 1970, há meio século todo o brasileiro acordou com uma sensação de nervosismo misturado com alegria, era dia da decisão do campeonato mundial de futebol no México, o Brasil poderia se consagrar Tri campeão. Como é do conhecimento de todos, quando o juiz ao final do jogo trilou o apito com Brasil 4x1 na Itália, tudo virou festa. Todos os brasileiros naquele dia, independentemente de sexo, viraram do dia para noite “locutores” e “comentaristas” de futebol. A quem narrava, foi assim: “... Gerson para Rivelino, Rivelino para Tostão, Tostão .... dribla um, dribla dois ... cruza pra área ... PELE SOBE DE CABEÇA É É É GOLLL GOLLL LLLLLL ...” Outros comentavam: “ ... o técnico Zagalo acertou, fez o melhor time ....”, tudo era só alegria.
Na cidade mãe do Sudoeste Paranaense, atualmente Centro Sul por mudança no mapa geográfico do estado, não era diferente. Lá estava eu, adolescente, também na festa. Em dado momento da comemoração, não lembro quem, teve a idéia de pedir os instrumentos musicais da famosa fanfarra do Colégio São Luiz, “colégio das freiras, das irmãs” como era conhecido, para em cima de um caminhão desfilar pelas ruas da cidade em comemoração. As irmãs responsáveis pelo Colégio, claro, naquela altura todas também em festa, disseram que tinham rezado durante todo o jogo, e de imediato liberaram os tambores, clarins, cornetas e tudo mais que fizesse barulho.
Não demorou muito e logo se viu o caminhão descendo a rua Dr. Piragibe de Araújo sentido a Praça Getúlio Vargas, com toda aquela barulheira, logo acima da cabine alguém segurava e fazia dançar a bandeira do Brasil. Naquela altura a afinada fanfarra não desenvolvia nenhuma música e/ou nota musical que fosse possível entender, era um tendel só.
Tudo corria dentro da “normalidade” da festa quando, repentinamente, a fanfarra parou de tocar, o silêncio foi geral. Estava posicionado na rua, a uns vinte metros na frente do caminhão, com o braço direito levantado em sinal de pare, o respeitado Tenente Aladim, responsável pelo alistamento militar da cidade. Estava devidamente fardado, aproximou-se do caminhão e em viva voz, voz firme e audível, própria de militar, disse: “VOCÊS QUEREM FAZER FESTA FAÇAM, MAS NÃO COM A BANDEIRA DO BRASIL, A BANDEIRA NÃO SERVE PARA ISTO, DEVE SER RESPEITADA. POR FAVOR! ENTREGUEM A BANDEIRA E PODEM CONTINUAR COM A COMEMORAÇÃO”. De imediato foi entregue a bandeira, ninguém teve a coragem de desafiar a ordem. O Tenente com muita rapidez, própria de quem sabia o que estava fazendo, fez as dobras conforme manda o cerimonial nacional das Forças Armadas. Naquele momento todos assistiam, não mais o jogo, mas o Tenente fazendo as dobras da bandeira. Concluído o cerimonial das dobras, colocou a bandeira no braço direito estendido e seguiu em direção ao Departamento de Alistamento Militar da cidade, para guardá-la. Não precisa nem dizer, literalmente falando, naquele momento “se um mosquito viesse a bater as asas, certamente seria ouvido tamanho silêncio”. Os jovens, inclusive eu, por sua vez, não tiravam o olhar do Tenente, todos ficaram “cuidando”, “espiando”. Quando ele “sumiu” de vista, não deu outra, reiniciou a festa, o dentel ferveu ... BUM ... BUM ... do ruvuar dos tambores ... BRASIL .... BRASIL .... BRASIL.
Confesso quando relembro o Tri do Brasil, não tem jeito, lembro do saudoso Tenente. A verdade é que, sem entrar na polemica no que se refere à bandeira participar ou não da festa, eis que hoje participar é natural. Naquele dia, ao meu olhar, teve duas belas apresentações, a da Seleção Brasileira e a do Tenente. Ambas se consagraram campeãs, uma do futebol e a outra do civismo. Disso tudo, restou fato incontroverso, qual seja: - Que o Tenente Aladim levou nossa querida e amada bandeira para guardá-la é verdade, mas que teve festa, isto também é verdade. E que se diga de passagem festa das boas. VALEEEUU BRASSSILLL, ATÉ OUTRA COMEMORAÇÃO.