Era época de plantio e eu andava muito atarefado, trabalhando de sol a sol para dar conta de todo o serviço. Era preciso fazer a plantação no tempo certo para aproveitar a estação das chuvas que naquele tempo chegava na época certa.

         Na hora do almoço, a mulher veio me dizer que estava faltando toucinho.

         - Mas já acabou, criatura?

          - O que tem não dá nem para a janta.

Fiquei preocupado, pois tinha mais de dez camaradas trabalhando comigo.

           Na roça e era necessário tomar uma providência. Determinei ao meu filho mais velho que tomasse conta do serviço e fui para casa. No caminho pensei em matar um dos porcos já de meia-ceva, mas achei que não valia a pena e resolvi ir até a cidade comprar uma manta de toucinho para remediar, até que os dois capados chegassem.

          Cidade é modo de dizer, pois era um lugarejo ordinário que ficava a uns quinze quilômetros de onde morávamos. Arreei o cavalo e já ia partindo quando ouvi um de meus cachorros latindo desesperadamente nos arredores de casa, perto do mandiocal.  Pelo latido, vi logo que tinha amarrado alguma caça. Um paca, um preá, um tatu ou até mesmo uma onça, bicho que não faltava na região.

          Achei por bem conferir o que era e, depois de pegar a espingarda certeira, encaminhei para o local.

        Foi grande a minha surpresa quando vi que se tratava de um tatu. Não um tatu comum. Parecia mais um porco de tão avantajado e gordo. O pobre bicho tentava sem sucesso cavar um buraco por onde pudesse escapar do inimigo, mas o terreno ali era pedregoso.

       Diante daquela situação não me dei ao trabalho de matá-lo: peguei-o vivo mesmo. E tomando cuidado para não ser arranhado pelas suas terríveis unhas, coloquei-o na cabeça e fui para casa com aquela carga que mais parecia de chumbo, tão pesada estava.

         Distraí-me ajudando a mulher a limpar o teba e até me esqueci de ir à cidade. Mas toucinho foi o que não faltou por mais de trinta dias. A patroa ficou impressionada com a quantidade de gordura que o tatu tinha.

 

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 11/06/2020
Reeditado em 02/01/2022
Código do texto: T6974630
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