Causo de Baturité
Em Baturité, no Ceará, aproximadamente há duzentos anos atrás, houve um evento sobrenatural que aterrorizou uma formosa vila local. O velho caboclo, Josias Silvério, voltando dos canaviais ao cair da tarde, sozinho e carregando finos gravetos de madeira para alimentar o fogo da fogueira, cantarolava para o vento ouvir, era sua companhia no momento, momento esse que foi curto, pois de repente resolveu o vento desaparecer, para o estranhamento de Josias, que sempre sentiu a brisa leve sobre si naquele local. Mais estranho foi o breu da noite ter vindo mais cedo, que momento esquisito surgia, seu espinhaço tremia, o suor em seu rosto descia, o que havia, afinal?
De longe, para sua sorte, avistou o vilarejo que carregava o nome do santo guerreiro, a ele pediu proteção, pois algo ali lhe fazia medo. Medo que a frente do tempo faria sentido, porque ali, naquele plantio, um mal haveria de surgir. Chegando ao fim da estrada de terra, onde à sua frente havia a entrada com a imagem do santo da Lua, a abençoar a quem passava.Tranquila poderia ser o fim de sua trajetória, mas a maldição do lado de fora o chamara para o mato voltar.
A voz cavernosa, horrível e cheia de raiva fez o velho se assustar, olhou para trás, viu a imagem: um ser bem grande, com um chifre cintilante, de cor cinzenta. O bicho abriu seus olhos, a cor era de sangue. O homem, aterrorizado, correu para o vilarejo gritando por socorro. Bem rápido veio todo o povo, acudir o caboclo, que estava para morrer.
Dizia ter visto um bicho maldito, apenas falou isso antes de ter morrido. A razão foi desconhecida, com aquele alvoroço mais gente vinha acompanhar, porém, antes que o corpo pudesse ser carregado, ecoou do mato fechado um som estridente, quando olharam constaram que não era gente, todos correram desesperados para suas casas e ficaram abrigados, com medo do que pudesse ser, aterrorizados, não conseguiram dormir, ficaram todos acordados até o sol ressurgir.
No dia seguinte mandaram um grupo chamar um padre na diocese da cidade, ele rezou na Vila de São Jorge, rezou, rezou e rezou até oração lhe faltar, disse a quem saísse da vila pedisse ao guerreiro abençoar e assim do perigo iriam se livrar. Uma pena, pois ainda sim o mal voltou, sempre nas noite de segunda-feira a fera atacou e cerca de dez vidas ceifou, durante vinte dias o terror imperou.
A reza não dava certo, as pessoas resolveram apelar para um outro credo, e no município vizinho uma senhora foram chamar, era mãe Dulcéia, que com bom gosto foi visitar. Com reza forte ela lançou, na mata deixou um axoxô e para Oxóssi, guardião das matas, ela gritou: Okê arô! E ali o protetor se firmou.
Nunca mais o monstro apareceu, muitos agradecidos à Mãe Dulcéia ficaram, desde então, naquela vila, a paz reapareceu.