AMENDOIM NO PILÃO


Quando eu estava no curso primário, estudava em um colégio estadual que era administrado por freiras católicas. Elas eram encarregadas do funcionamento da escola em convênio com o estado que era o mantenedor. As freiras eram, em sua maioria, professoras, mas não só elas, havia professores leigos contratados.

Era um colégio muito bom, com disciplina rígida, matérias bem ensinadas e outras atividades como esportes e artes muito incentivados. Lá recebi uma excelente educação que me permitiu ingressar, mais tarde, na universidade, sem dificuldades.

Mas lembro de um fato que hoje me chama a atenção. Havia uma freira, Irmã Leônia, que preparava pirulitos e paçoquinhas de amendoim para vender às crianças, no recreio. As freiras moravam em um prédio anexo ao colégio. Lá irmã Leônia tinha um pilão que era usado para socar o amendoim torrado até fazer dele uma espécie de farinha grossa, que acrescida de açúcar e sal se transformava na famosa paçoquinha. Ela usava como força de trabalho seus alunos que se revezavam, fora do horário de aula, a socar o amendoim e fazer dele a matéria prima do dito doce.

O ponto a que quero chegar é o seguinte:

Era correto fazer com que seus alunos trabalhassem para ela produzindo a paçoquinha que depois era vendida para todas as crianças, inclusive estas?
Certamente, havia ali o interesse de usufruir ganhos usando crianças em trabalho não remunerado. Nunca fui aluna de irmã Leônia e, portanto, nunca soquei amendoim no pilão para ela vender. Entretanto, muitas vezes comprei esse lanche que era vendido pela própria freira na porta de sua sala de aula. Hoje, creio que essa atitude seria reprovada, como algo impróprio e proibido por lei. Seria caracterizada como trabalho infantil.

Mas como era gostosa aquela paçoquinha...





 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 02/05/2020
Reeditado em 12/04/2023
Código do texto: T6935442
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