O SEQUESTRO DE LAUDENICE

Laudenice era uma mulher lutadora. Pernambucana, deixou sua terra natal aos 14 anos. Sua madrinha ,que era muito rica, a levou para Maceió, onde tinha um apartamento luxuoso de frente para o mar da Ponta Verde. Valquíria colocou sua afilhada para trabalhar como faxineira em seu apartamento. O combinado seria que Valquíria levasse a menina nas férias para o interior de Pernambuco, na casa dos pais. Tinha sido tudo tratado direitinho com Seu Natalino e Dona Josefa, pais da garota. Valquíria prometeu que a menina ficaria sob sua responsabilidade, a colocaria em um bom colégio na capital alagoana, e todo mês pagaria um bom salário para as despesas da mesma e também para que ela mandasse uma parte para os pais. Mas infelizmente nada disso aconteceu! A mulher era uma exploradora, sem amor no coração... Ela só olhava para si, para as suas vontades. E o amor é como um farol, brilho em nossos olhos, nossa alma que se ilumina para alcançar a vida de nosso próximo.

Os pais de Laudenice trabalharam de caseiro na fazenda do pai de Valquíria, foi assim que se conheceram.

Laudenice era uma criança linda, risonha, esperta, a filha caçula do casal de caseiros. Seu Natalino e Dona Josefa sonhavam com um futuro melhor para a filha. Valquíria, certo dia, chegou bem triste na fazenda... Chorando muito! Foi recebida pelo pai, Seu Vanilson, que logo quis saber o motivo daquelas lágrimas. Mandou que Dona Josefa preparasse o café da manhã farto, como de costume.

Mas Valquíria estava sem fome, e o pai insistiu para que a filha comesse. Ela só tomou um suco de graviola, e contou ao pai que havia sofrido um aborto, e que o namorado rompeu com ela. Seu Vanilson não hostilizou a filha, antes procurou ser paciente. Mas não poupou a filha de sermões, abrir os olhos dela sobre as armadilhas da vida.

" Trate de enxugar estas lágrimas! Você não é fraca. O que você precisa é ser sábia, é parar de agir por impulso. Sei que seu sonho é ser mãe, mas antes tens que ser sábia!"

Valquíria gostava muito de Laudenice. Sempre trazia uma boneca de presente para a afilhada.

A partir do triste ocorrido, Valquíria passou alimentar o desejo de " roubar" aquela linda menina, de uma beleza ímpar. Teria uma filha.

Laudenice acreditava na bondade de Valquíria, sua dinda.

Valquíria conversou com os pais da menina, disse que estava muito triste sozinha em Maceió, onde residia. Disse que queria a companhia de Laudenice, a trataria muito bem. Conversa vai, conversa vem... Enfim, Valquíria acabou convencendo os pais da mocinha a deixá-la ir morar com a madrinha. Não sabiam eles que estavam abrindo as portas para a filha conhecer o inferno.

Valquíria, depois que sofreu o aborto, ficou deprimida. Sofria o terror noturno, as vezes tinha insônia noutras, pesadelo. Sonhava com as bonecas que sempre presenteava sua afilhada. Nos sonhos aquelas bonecas eram sua bebê, e a criança ia crescendo e o rosto da menina era o de Laudenice. Tudo muito confuso, boneca ensanguentada, sorriso, lágrimas, o rosto de Laudenice, a voz infantil já quase sumindo, dizendo: MAMÃE , EU TE AMO!

Valquíria realmente precisava de ajuda! Mas o que ela estava passando era castigo, tudo na vida dela era luxo e ficar distante, ficar no seu mundo. Não queria servir, só queria ser servida! Aprendeu a ser assim ouvindo os péssimos conselhos de sua mãe: " Menina, não seja igual seu pai. Vanilson é um bobão, ninguém o respeita. Nessa vida as pessoas confundem bondade com ser bobo, e sendo assim não devemos abrir o coração. Devemos nos fechar e viver nossa vida. Cada um vivendo a sua vida, cada um fazendo a sua parte. Você não é boa samaritana para ajudar todo mundo. Viva sua vida viva os teus sonhos, não olhe para ninguém, seja cega para as necessidades dos outros." Valquíria absorveu aquelas palavras sem vida de sua mãe e abandonou a vida lá na fazenda e foi curtir sua juventude bebeu farrou namorou muito, foi usada. Mesmo sendo usada ela sentia alegria ela estava cega, ela se confundia, não sabia distinguir o bem do mal. Para Valquíria fazer o bem era fazer aquilo que te dava prazer. A vida de Valquíria se resumia em um prazer passageiro, logo ela se enchia e passava para outra. Já estava em outra, outra decepção, outra vez coração machucado. Os pais de Laudenice não se atentaram para o comportamento de Valquíria, pois está sabia fingir bem... E, pessoas humildes, sem instrução, não param para pensar que gente rica também sofre. É um sofrer diferente, é pior ainda! Pois rico sofre na solidão, pois o dinheiro demais atrai a solidão, porque o dinheiro não resolve tudo. Só o dinheiro não nos coloca acima dos problemas. E quando os ricos colocam sua confiança no dinheiro, eles perceberam o vazio, o sonho perdido, tudo falta. Pois quando falta amor, falta tudo.

Laudenice foi morar com sua madrinha em Maceió. Ficou boquiaberta com o apartamento luxuoso, e a linda paisagem da capital alagoana, o mar verde esmeralda. A menina, aos poucos, foi tentando se adaptar à nova vida. Tinha muitas saudades dos seus pais. Antes de ir dormir, fazia uma oração para Deus guardar seus pais, livrá-los de todo mal.

" Senhor, eu peço também pela minha madrinha Valquíria! Livra ela desses tormentos, faça com que ela seja uma pessoa feliz, realizada com o sonho de ser mãe. Eu te peço Senhor! Não há nada que seja impossível para o Senhor! "

Valquíria acordou, durante a madrugada, para ir à cozinha beber água, e ouviu sua afilhada orando baixinho dentro do quarto. Escutou a menina pedindo a Deus em seu favor, e começou a chorar.

Na manhã seguinte, na hora do café, olhou nos olhos da menina e disse:

Laudenice, você é minha filha! Quero que você me chame de mãe! Não precisa pedir a Deus para eu ser mãe!... Eu já sou mãe, eu tenho você aqui comigo!...

Laudenice olhou para a madrinha, e viu que ela não estava normal. Sentiu medo! Queria gritar, pedir ajuda! Estava a menina muito agoniada. Não queria imaginar jamais que sua madrinha fizesse com ela uma besteira, só Deus!... Só Deus para guardar Laudenice!... Se tivesse dinheiro voltaria para a fazenda. Que saudade dos pais! Valquíria não deixava a menina entrar em contato com os pais!

Aquela situação foi sufocando a garota!

Ela sabia que sua madrinha não estava bem, não sentia raiva... Só sentia pena! Que saudade da alegria de estar ao lado dos pais! Afinal quando era que essa alegria voltaria!...

Laudenice chorava só de imaginar que corria o risco de nunca mais rever os pais!

Dia 06 de Setembro, véspera de feriado, Laudenice combina com o seu namoradinho da escola de os dois irem até Bezerros ( interior pernambucano, onde fica a fazenda de Vanilson, casa de seus pais).

O rapazinho era filho de um delegado federal. Na saída da escola, o casalzinho começa a preparar tudo para a viagem. Passam num mercadinho, compram biscoitos, lanches. Laudenice pede para Rafa ficar esperando na portaria, e sobe para pegar sua mochila.

Ao chegar, a jovem dá de cara com sua madrinha com a cabeça virada, muito irada:

Onde a senhora pensa que vai? Sua mochila está comigo, você não vai pra canto nenhum!!!!

Laudenice chora, grita dizendo que Valquíria não vai impedi-la! Fez questão de lembrar que a madrinha havia prometido que sempre a deixaria manter contato com os pais. " O que a senhora tá fazendo não é certo! Deus está vendo sua maldade! "

Aquela confusão toda, aquela gritaria chamou atenção dos vizinhos.

Rafa começou a ficar preocupado,a namorada estava demorando muito! Pediu autorização ao porteiro para subir ao apartamento da namorada.

Chegando lá, viu a namorada aos prantos.

Valquíria com uma faca ameaçando a afilhada! " Você só sai daqui morta! Sua mãe sou eu! "

Rafa ficou indignado com aquela cena. Aproveitou a distração da mulher, viu que na cozinha tinha uma vassoura. Bateu com o cabo na mão da mulher, ela deixou cair a faca.

Rafa e Laudenice agiram rápido, a menina pegou de volta a mochila.

Desceram bem depressa!

Pegaram um táxi até a rodoviária!

Laudenice foi se abrindo, contando toda a história para o namorado! Rafa ligou para o pai.

" Laudenice, antes de viajarmos, vamos até à delegacia que o meu pai trabalha.

Essa mulher precisa aprender! Ela tem que ser presa por te sequestrar."

Laudenice aceitou. Tudo foi conversado na delegacia.

Seu Dener, delegado pai de Rafa, era um homem bem sério, rígido mas de bom coração.

Gostou muito de saber que o filho estava namorando uma menina com muitas qualidades.

Mandou os policiais irem até o apartamento da Ponta Verde.

Valquíria não resistiu à prisão. Saiu algemada, disse aos policiais que fez tudo movida pelo sonho de ser mãe.

Só que Valquíria não sabia amar, só enxergava ela mesma. E quem é assim não tem o dom de ser mãe.

Laudenice e Rafa viajaram para Pernambuco.

Um ano sem ver os pais! Coração de Laudenice estava acelerado! Rafa segurava em suas mãos, na intenção de acalmá-la.

" Tudo já deu certo, meu bem! Você vai rever seus pais."

"Muito obrigado Rafa, meu amor! Não tenho palavras para te agradecer! Foi Deus quem nos uniu, e fico muito feliz por isso!"

Laudenice finalmente chegou na fazenda Boa Esperança, correu muito e com toda a alegria abraçou os pais.

" MAMÃE!!! PAPAI!!!! AMO VOCÊS!!!"

E esta história termina falando de amor, o amor é sagrado. Nada impede o trilhar do verdadeiro amor.

O amor verdadeiro é o presente de Deus em nossas vidas!

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)