Segunda-feira seria um dia qualquer, se não fosse Maria de Lourdes. Mulher franzina, pele marcada pelo sol, um rosto triste, com duas ou três marcas de golpes de punhal, ainda em cicatrização na face.
Se não fosse a Maria de Lourdes não saberia o quão o apego religioso pode ser perigoso e porque não sufocante. Ela está “morando de favor” em frente à minha casa. Há vinte anos reside no interior e vive à mercê das sobras das orgias do marido, mulheres e bebidas. Apanhou desde o dia do casamento. Pelos pecados da carne que a fizeram se arrumar para o grande dia. Parece história inventada, mas no século XXI é verdade. Ela está sem um lar porque ontem, depois de 20 anos de ameaça, o seu marido resolveu terminar o serviço, a apunhalou ao menos cinco vezes e num ato desesperador ela correu e conseguiu fugir. O local onde conseguiu chegar foi na igreja e lá, ao se abrir com o padre, mostrou seu corpo violado numa relação forçada, em carne viva. Ela pediu que o padre rezasse pela paz do então marido, que parecia possuído ao tentar matá-la. Mas era só. O perdão ora viria.
A violência contra a mulher não é bandeira de discursos feministas, ela é estatística e ancora uma visão machista de pertencimento, propriedade. Não sobre a pessoa, mais ainda sobre o que vem dela.
Dezenas de mulheres são espancadas diariamente, em ambiente familiar, frente aos filhos, sem possibilidade de defesa ou por prisões existenciais ligadas ao matrimônio ou à segurança familiar.
Olhando para a Maria de Lourdes fiz uma viagem por todos os campos da vida e vim parar aqui na inércia, já que, a sua fragilidade e vulnerabilidade acabam me fazendo sentida, dolorida.
Hoje, ainda de manhã, veio a notícia trágica da morte do então marido, que por enquanto parece ter ocorrido de forma natural, como foi encontrado em sua cama sem sinais de luta ou quaisquer outro.
E Maria dez Lourdes, agora viúva, chora a dor de tê-lo perdido por ter saído de sua casa. Muito além disso, carrega a culpa: “eu poderia tê-lo salvado”.
Se não fosse a Maria de Lourdes não saberia o quão o apego religioso pode ser perigoso e porque não sufocante. Ela está “morando de favor” em frente à minha casa. Há vinte anos reside no interior e vive à mercê das sobras das orgias do marido, mulheres e bebidas. Apanhou desde o dia do casamento. Pelos pecados da carne que a fizeram se arrumar para o grande dia. Parece história inventada, mas no século XXI é verdade. Ela está sem um lar porque ontem, depois de 20 anos de ameaça, o seu marido resolveu terminar o serviço, a apunhalou ao menos cinco vezes e num ato desesperador ela correu e conseguiu fugir. O local onde conseguiu chegar foi na igreja e lá, ao se abrir com o padre, mostrou seu corpo violado numa relação forçada, em carne viva. Ela pediu que o padre rezasse pela paz do então marido, que parecia possuído ao tentar matá-la. Mas era só. O perdão ora viria.
A violência contra a mulher não é bandeira de discursos feministas, ela é estatística e ancora uma visão machista de pertencimento, propriedade. Não sobre a pessoa, mais ainda sobre o que vem dela.
Dezenas de mulheres são espancadas diariamente, em ambiente familiar, frente aos filhos, sem possibilidade de defesa ou por prisões existenciais ligadas ao matrimônio ou à segurança familiar.
Olhando para a Maria de Lourdes fiz uma viagem por todos os campos da vida e vim parar aqui na inércia, já que, a sua fragilidade e vulnerabilidade acabam me fazendo sentida, dolorida.
Hoje, ainda de manhã, veio a notícia trágica da morte do então marido, que por enquanto parece ter ocorrido de forma natural, como foi encontrado em sua cama sem sinais de luta ou quaisquer outro.
E Maria dez Lourdes, agora viúva, chora a dor de tê-lo perdido por ter saído de sua casa. Muito além disso, carrega a culpa: “eu poderia tê-lo salvado”.