PADRE VENCESLAU
O padre Venceslau era daqueles sacerdotes antigos que ainda celebrava tudo em latim e, como representante da igreja, se julgava no direito de dar palpite na vida de todos os seus paroquianos além de exigir de todos obediência sem contestações.
Quando nasceu o primeiro filho de compadre Joaquim, ele chamou o irmão Severino dos Ramos e a cunhada Valquíria, irmã da sua mulher, para padrinhos do menino.
Por serem solteiros o padre não gostou e deixou isso bem claro.
- Batizar uma criança é um ato de extrema responsabilidade e deve ser sempre pessoas casadas para servir de exemplo para a criança, caso seja necessário ela vir morar com os padrinhos.
Padre Venceslau exigiu que os dois fizessem o curso de padrinhos e durante as aulas falou por diversas vezes sobre a conveniência de os padrinhos serem casados e em todas essas ocasiões os dois diziam ao padre, - depois veremos isso - mas, nem Severino nem Valquíria, tinham qualquer intensão de casarem-se.
No dia do batizado, com todos os convidados na igreja, o padre avisou aos padrinhos que deveriam responder sim a todas as suas perguntas e, ao final, em vez de dizer a fórmula;
– ego te baptizo in nomine patris, filii et spiritus sancti * – disse ego profiteos maritus et mulier ** e em bom português, acrescentou – o que Deus uniu, o homem não separe.
Não adiantaram as reclamações, sacramentos não têm retorno e, apesar de permanecerem solteiros Severino e Valquíria perante a igreja estão casados até que a morte os separe.
GLOSSÁRIO
Em tradução livre:
* Eu te batizo em nome do pai, do filho e do espírito santo;
** Eu declaro marido e mulher.