Seu assento em posição vertical
Assim que o avião entrou em altitude de cruzeiro, reclinei minha poltrona e fechei a cobertura da janela para relaxar um pouco. Meu conforto terminou quase imediatamente, quando o passageiro do banco de trás cutucou meu ombro.
- Será que poderia recolocar sua poltrona em posição vertical? - Indagou ele num tom de voz baixo e educado.
- Por quê? - Questionei, olhando por cima do encosto.
O passageiro, um sujeito magro, óculos de grau, calvície avançada, apontou para a bandeja presa ao meu assento, e que ele abrira.
- Eu preciso escrever - justificou-se ele. - Com a sua poltrona inclinada, o meu laptop fica desnivelado.
Pensei lá com os meus botões, o que eu tinha que ver com isso. Mas tentei dar uma resposta polida:
- Por que o senhor não coloca o laptop, bem... no colo?
- Porque esquenta - replicou secamente.
Aquele era um voo transoceânico de seis horas de duração. Eu tinha que tentar dormir um pouco, e o chato atrás de mim não parecia disposto a me deixar fazer isso; ao menos, não em posição reclinada.
- Qual, exatamente, é a marca do seu laptop? - Indaguei de modo casual.
- O que tem isso a ver? - Questionou o sujeito.
Ergui-me para dar uma boa olhada no equipamento. E imediatamente chamei a comissária de bordo mais próxima.
- Este cidadão está querendo ligar um MacBook Pro de 15" - alertei enfaticamente.
A comissária encarou o tipo com a testa franzida:
- O senhor não declarou que estava de posse de um MacBook Pro. A bateria deste modelo pode representar um risco à segurança do voo.
Por estas alturas, todos os demais passageiros estavam olhando para o sujeito como se ele fosse um terrorista.
- Vou ter que lhe pedir que guarde o laptop e não o utilize por todo o decorrer da viagem - advertiu-o a comissária.
O tipo não se atreveu a contestar. Sem dizer uma palavra, enfiou o MacBook no bolsão da minha poltrona e afundou no próprio assento.
Quanto a mim, continuei com a minha poltrona em posição reclinada. Instantes depois, peguei no sono.
- [13-03-2020]