Seu Dimas sitiante vizinho nosso. Vivia da criação de galinhas, porcos e algumas vaquinhas.

         Certo vez, João Gato, açougueiro da região, apareceu no sítio propondo-lhe a compra de uma vaca.

         - Você me vende a vaca, eu mato ela e boto no açougue. Assim que terminar de vender, venho aqui e acerto tudo.

         O sitiante ficou meio cabreiro com aquela conversa mole, mas devido aos grandes apertos por que estava passando com umas macacoas da mulher, acabou aceitando o negócio.

         Era sexta-feira. Passou o sábado, o domingo, e o bom homem ficou na expectativa de que o açougueiro viesse. “Talvez aparecesse na segunda” pensou. Entretanto, o tratante não veio.

         Seu Dimas esperou uma semana. Talvez ele não tivesse conseguido receber o dinheiro das vendas. Mas quando se completaram quinze dias, a sua paciência começou a se esgotar. Resolveu ir tirar satisfações com o mau pagador.

         - Ainda não consegui ajuntar todo o dinheiro que lhe devo, mas no domingo que vem certamente receberei os fiados que tenho e vou pagar tudinho pro senhor.

         - Acho muito bom, que eu não estou para dar barrigada a pançudo. Afinal, com a mulher doente, a coisa anda preta pro meu lado. É tanto remédio que acabo por vender todas as vacas e talvez a minha terrinha também.

         - Neste caso se o senhor quiser me ceder outra vaca eu compro e na segunda pago as duas.

         - O outro como que enfeitiçado pelo vendedor de carnes, entregou a ele outra rês, na esperança de receber todo o dinheiro no prazo prometido e livrar-se das contas que lhe tiravam o sono.

         Para decepção, João Gato não apareceu na segunda, nem na terça. Sumiu e não deu mais nenhuma satisfação, deixando o Dimas muito irritado e falando até em matar.

         Já ia mais de um mês do dia em que foi levada a segunda vaca, quando resolveu dar parte na delegacia da cidade, acreditando que o delegado, homem honesto e forte, muito respeitado por todos, diga-se mais de passagem, mais pelos seus punhos que pela honestidade, pudesse resolver a questão.

         No dia da audiência, João Gato chegou meio desconfiado e quando estavam diante do delegado, este lhe passou uma descompostura, ameaçando colocá-lo atrás das grades.

         - Não precisa ficar bravo, seu delegado. Aqui está o dinheiro. Contadinho. Podem conferir.

         - Uma vergonha. Um homem sem palavra como o senhor. Se estava com o dinheiro, por que não tratou de pagar logo a dívida?

         Foi quando o cretino revelou na maior cara de pau, ante o espanto de todos.

         - Eu sempre tive muita vontade de pagar o que devia pro Dimas, mas eu sempre ficava com preguiça de enfiar a mão no bolso para pegar o dinheiro.

         Foi a primeira vez que João Gato passou uma noite no xadrez.

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 22/02/2020
Reeditado em 02/01/2022
Código do texto: T6871970
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