Dia de núpcias
_Deu certo _Alexandre falou, um pouco incrédulo, como se houvesse esperado que, no último segundo, alguma voz do além se pronunciasse em altos brados contra a pequena... Não, não era mentira, era mais uma omissão... do rapaz.
_É. Nós vencemos, Alê! _Rosa concordou, radiante. A idéia de estar casada com aquele rapazinho adorável, tão inteligente para algumas coisas, tão inocente para outras, deixava-a extremamente feliz.
Da maneira mais clássica, digna de filmes (embora eles estivessem longe de existir naquela época), ele a carregou e a depositou sobre a larga cama de dossel. Estava prestes a amanhecer. Isso e as muitas emoções da noite faziam Alexandre bocejar com a regularidade de uma goteira. Ficou em roupas de baixo e encaminhou-se para o aconchego das cobertas.
Rosa, porém, ainda estava sentada na beirada da cama, de cabeça baixa e ar constrangido. Ela sabia mais ou menos o que vinha depois.
_É estranho, não é, Alê? Termos nossa noite... isto é, *nosso dia* de núpcias?
_É... _ele respondeu, mal sabendo o que estava falando.
_E... Não sentes alguma vergonha?
_Não... Eu não ronco.
Rosa lançou-lhe um daqueles perigosos olhares de canto de olho. As íris vermelhas-crepúsculo de Alexandre mal eram visíveis entre as pálpebras.
_Alexandre Van Allen, estás a entender de que falo? _agarrou o rosto dele e sacudiu. _Nossa noite... Er.. *Dia* de núpcias. Lua-de-mel.
_Sim? _perguntou ele, com a mais deliciosa das inocências e alguma ansiedade. Já havia percebido que estava cometendo alguma gafe, embora não soubesse qual.
Rosa precisou se controlar. Só então lhe passou pela cabeça que os tutores do marido eram um inglês puritano e uma ex-freira. Suspirou.
_Deixa o sono para lá e senta aqui do meu lado, Alê. Precisamos conversar seriamente sobre as "coisas da vida"...