Os causos de causas desconhecidas(?)

Diante da velocidade do mundo contemporâneo, chega-se à conclusão de que devemos fazer hoje o que, de fato, queremos fazer. Porque (o) amanhã costuma se apresentar como um advérbio de tempo. E sendo um advérbio de tempo, talvez não se tenha tempo se apresentá-lo em tempo algum.

Aqui estão seis causos dispostos em ordem cronológica dos fatos. Só os nomes são fictícios, para  se preservar a identidade dos envolvidos.


Causo do Menino e o seu “Carrossel”

Numa Vila, no Piemonte da Chapada Diamantina, morava uma família de 10 membros. As crianças mais velhas costumavam ajudar o pai na separação dos animais para a ordenha do dia seguinte. Era uma tardezinha de inverno, quando Tom, que se encontrava sozinho, teve que ir para o sítio principal. Lá, já no final da sua atividade, notou um grande rebuliço dos animais que berravam e corriam de um lado para o outro de forma desordenada. Segundo ele, próximo à casa, começou a se levantar de dentro das árvores, um objeto luminoso que lembrava o carrossel no qual ele e as crianças da Vila brincavam.
Tom parou o serviço que fazia e ficou extasiado acompanhando a subida daquele objeto de cores voltadas para o lilás e o branco-prata; e que piscava muito, e que fazia ventar ao redor, lançando as árvores umas contra as outras como se estivessem sob uma forte ventania.

Após aquele momento, Tom, meio abobalhado, não conseguiu mais ajuntar o restante dos animais. E voltou para casa, amedrontado, sem saber o que dizer para o seu pai.

Depois de adulto, Tom ficou sabendo que o seu “carrossel”, de menino bobo, hoje tem outro nome, que é OVNI – Objeto Voador não Identificado. E ele evita contar essa história porque sabe que muitos não acreditam.

Para casos como esse ainda existem controvérsias.


Causo da Estudante das “Lágrimas de Chuva”

Era uma manhã de um dia comum. Aquela moça vestiu o seu uniforme e foi para o colégio. Chegando lá, adentrou a sala, sentou-se no cantinho de sempre e esperou a sirene tocar para dar início às aulas. Minutos depois, sobe a Coordenadora que passava de sala em sala dando um aviso que não haveria aula naquele dia. Motivo? Falecera uma grande autoridade de influência mundial. E o Brasil estava de luto.
Ao ouvir aquela notícia, a estudante desaba por dentro e chora copiosamente. A sua melhor colega, Ada, não entendia o porquê do choro compulsivo enquanto a maioria comemorava o fato de não ter aulas. A estudante não queria falar. Somente as suas lágrimas, que caíam em seu colo como se fossem pingos de chuva, falavam por ela. E aquela estudante, amparada pela sua colega, deixou o colégio sem nada dizer.
Ao chegar à sua casa, deparou-se com inúmeros comentários acerca da notícia. Ela, ainda em silêncio, vai para o seu quarto e lá procura o caderno no qual havia escrito, na tarde anterior, sobre aquela autoridade. E, com medo de ser punida, esconde o caderno no forro da sua mala. Para ela, uma adolescente inexperiente, é como se ela tivesse, através das suas palavras, causado a morte daquele grande líder.


Causo do Livro

Eva tem um amigo escritor, que mora a mais de 400 quilômetros da sua cidade. Os dois sempre trocavam textos que julgavam interessantes. Certo dia, após o expediente, numa quarta-feira, ela resolveu parar numa banca de revista, e lá viu um livro que lhe chamara a atenção pelo título: O Caminho da Felicidade. Ao folhear o exemplar, na página onze onde o autor (filósofo), começa com uma advertência sobre um vocábulo de origem latina, os olhos de Eva experimentaram uma agradável estranheza. Por conta disso, ela comprou o livro e, de imediato, sublinhou a tal palavra. No dia seguinte, recebe, via e-mail, um texto do seu amigo escritor, discorrendo sobre a “vigência das leis”, onde consta o mesmo vocábulo, que, além de bem explicado, está com ressalva, entre parênteses, para que qualquer par de olhos possa enxergar bem e não duvidar da Inteligência Suprema que rege o Universo.

Até hoje não houve oportunidade para os dois conversarem acerca desse fato.


Causo Médico:

Fase I:
Martha tinha uma vizinha enfermeira. Certo dia, tomada por um cheiro excessivo de éter, resolveu tocar a campainha da vizinha para ver o que acontecia. Ninguém atendeu à porta. Preocupada, pensa: “Será que ela armazena tal produto em casa?” Resolveu descer do prédio. Quando voltava, Martha deu de cara com a enfermeira chegando. Ficou sem jeito e disse: “Pensei que você estivesse atendendo alguém em casa. Senti um cheiro tão forte de éter...” A enfermeira esclareceu que o trabalho dela se dava, apenas, dentro da unidade hospitalar. E depois da conversa, as duas entraram para seus apartamentos. Martha, estranhamente, não sentia mais o cheiro. Estava aliviada.

Fase II:
Martha estava sob cuidados médicos e prestes a fazer uma cirurgia de alto risco. De repente, surgiu um “pontilhado” do lado direito do seu corpo. Ela já sabia que havia um problema no lado esquerdo. E embora essa novidade tivesse lhe deixado apreensiva, ela resolveu não sofrer por antecipação. E a marca foi desaparecendo aos poucos.

Fase III:
Martha, já no hospital, estava a caminho do centro cirúrgico quando o anestesista veio ao seu encontro sorrindo. A partir daquele momento, nada batia com nada.
Anestesista: Você já esteve comigo, não esteve?
Martha: Não, doutor. É minha primeira vez aqui.
Anestesista: Você nunca esteve comigo? – Meio incrédulo, com o cenho enrugado, ele a conduziu até o local. Lá, estava uma instrumentista.
Anestesista: Cadê a Dra. Áurea que estava aqui?
Instrumentista: A Dra. Áurea não chegou ainda, doutor. Só falta ela.
Anestesista: Não... Hoje vocês estão de brincadeira comigo. Eu vi a Dra. Áurea aqui...
Instrumentista: Não, doutor. Aqui ela ainda não apareceu.
Minutos depois, Dra. Áurea adentra no Centro Cirúrgico.
Dra. Áurea: Bom dia, gente! Bom dia, colega!
Anestesista: (atordoado) Bom dia! Eu vi você... Mas você tem certeza que está chegando agora?
Em meio aquele “sim” e “não” de médicos, a paciente Martha se tornava mais paciente que nunca.

Fase IV:

No pós-cirúrgico, Martha passou a fazer curativo com uma técnica de enfermagem. E durante aquele procedimento ela pôde constatar que no local onde surgira o estranho “pontilhado”, antes da cirurgia, houve a necessidade de ser aberto e costurado pela Dra. Áurea. Sem dizer nada para a técnica de enfermagem, ela começou a ligar os fatos.

Para casos como esse existem muitas controvérsias.


Causo da “Mãe Branca”

Ester viveu por mais de cinco anos em companhia de uma senhora, muito bondosa, a qual ela dizia ser a sua “mãe branca”. Após se casar, deixou a residência daquela senhora, mas sempre mantinha contato. Depois, o tempo passou e quase já não se viam mais.
Numa tarde qualquer, Ester abre o seu e-mail e vê escrito pela filha da bondosa senhora algo assim: “Minha mãe viajou”. E mais adiante, ela explicava que sua mãe fizera a passagem deste mundo para o outro...
Ester caiu em prantos. Em seguida, fez um contato telefônico explicando à filha órfã, que havia recebido a visita da sua bondosa mãe, há poucos dias.
Quando Ester detalhou como ela aparecera no seu quarto, a filha disse: “Acho que minha mãe foi se despedir de você. E a cor da roupa que ela vestia condiz com a sua descrição”. Ester até hoje usa, com especial carinho, o presente de casamento que recebeu da sua “mãe branca”.

Depois disso, não houve dúvidas quanto ao inusitado encontro.


Causo do Europeu

Eva fez amizade com um Europeu. E as duas partes do mundo, América do Sul e Europa, pareciam estar bem próximas.
Num determinado dia, Eva recebeu um vídeo que abordava assuntos religiosos. Ouviu e comentou. Os seus comentários não foram nada agradáveis aos ouvidos do europeu. E assim Eva saboreou uma réplica muito contundente a seu desfavor. Sentindo algo estranho no ar, ela resolveu rever o vídeo. Para sua triste surpresa, o que ouviu nada tinha a ver com o que ouvira e comentara anteriormente. Isto é, o vídeo era o mesmo, mas o conteúdo lhe era estranho. Além disso, o seu comentário não só deixou intrigado o europeu como a si própria, pois soava esquisito e fora de contexto.
Eva viveu momentos de perplexidade, tentando se justificar para o seu gentil amigo sem, sequer, ter como provar as suas verdades.


Diante disso, destaco dois pensamentos que me parecem válidos para reflexão:

“Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa.”
(Primo Levi)

“Só sei que nada sei.”
(Sócrates)