O DRAMA DAS SEVERINAS
JOEL MARINHO
Não, não é o Severino de João Cabral de Mello Neto, é uma Severina de qualquer lugar da vida, sem tempo definido, sem rosto definido em meio a tantos rostos de Severinas sofridas e perdidas sem rumo no “oco do mundo” espalhadas pelo Brasial.
Severina era uma mulher franzina que amou um Severino pela vida, era um amor sem limites, não havia conselhos que o fizesse parar, um fogo intenso, um desejo daqueles que nem as cercas pontiagudas podiam barrar. Severina queria voar, voar para os braços de Severino, amar, amar, amar.
Quanto à escola? Ah, deixa pra lá, afinal o futuro é a morte e o tempo que tinha queria aproveitar para amar.
E de repente a barriga de Severina começou tufar, era mais um “Severino” que estava a se gerar fruto do amor dos “Severinos”?
Logo nasceu um menino e fora batizado por Jorge Aguiar.
Mas aonde a família dos Severinos iria morar?
Sem lar, sem perspectivas, sem emprego, lá se vai a família dos Severinos para o degredo, uma vida que nem de longe se parecia com aquele amor que vivera nos tempos de amor divinal.
As coisas mudaram, os tempos mudaram e o amor... Ah, para onde o amor se mudou?
Durante um tempo Severina ainda suportou e em meio a pequenos lances de amor outro “Severino” apareceu e ganhou o nome de Joaquim de Deus.
Jorge e Joaquim foram crescendo e os pais Severinos se desentendendo.
Às vezes Severino chegava a casa porre e Severina começava a reclamar. Os vizinhos então viam panelas voar, palavrões, socos e tapas. Severina colocava as roupas em sacolas e dizia: vou embora!
Até que ia embora por uns dias, mas logo Severino implorava: - Volta Severina, as minhas roupas estão sujas, estão tudo pelo chão, estou magro como um jegue sem comida no sertão.
Severina condoída levantava em retirada, voltava para casa e o amor recomeçava.
Mas aquele ciclo em nada mudava.
Por uns dias era amor, mas na próxima cachaçada Severino endoidava. Mas vocês queriam ver como Severina também o tratava.
Em meio a brigas sem fim Jorge e Joaquim a aquilo apreciavam.
E Severina toda vez falava: - Um dia macaco é gente e nesse dia finalmente vou me libertar!
Mas toda vez que ela falava em separação mais plano fazia para continuar com Severino. Seria o amor “bandido”?
O tempo passava, a velhice chegava e a cada dia definhava Severina.
Um dia os dias de Severina chegaram ao fim. Sem glória, sem paz, sem alegria, sem amor. Sem amor? E o amor de Severino por Severina?
Não era amor, como diz a sabedoria popular, era sina.
Durante a vida de Severina nem ao menos uma casinha onde ela pudesse dizer:
- Esse lar é meu, essa casa é minha!
“Aqui jaz mais uma Severina de tantas Severinas espalhadas pelo Brasil”.
                                                 #FIM#