Causos do Velho Jorge - 1 - Cachorro ladrão
Era uma tarde de sábado. Minha mulher tinha ido a Jequitibá visitar comadre Rosalina, que não estava bem de saúde. Ficaria por lá até o domingo à tarde, quando voltaria no ônibus das cinco horas.
Quando cheguei do trabalho, minha filha mais velha com pouco mais de dez anos, mas que já tomava conta da casa com a diligência de gente grande, pediu-me que sangrasse um frango para ela preparar. Era costume da patroa matar um frango bem grande nos finais de semana. Geralmente preparado no sábado para entranhar o tempero. Que delícia!
Fui para o terreiro debulhando uma espiga de milho, enquanto chamava as galinhas: pruuu ti ti ti ti, pruuu ti ti ti ti. Elas vinham aos bandos e, em pouco tempo, encheram todo o terreiro da cozinha. Então, escolhi um dos frangos que me pareceu mais gordo e, com bote certeiro, agarrei-o pelos pés. Matei-o e entreguei-o nas mãos da menina, que já havia esquentado uma panela de água para escaldá-lo.
Para evitar algum acidente com a água fervendo, fiz para ela esta parte do serviço e depois fui cuidar de outros afazeres.
Meia hora depois, a pequena, um tanto desapontada, chegou na sala, onde eu limpava minha espingarda, e, entre chorosa e espantada, disse-me:
- Pai, deixei o frango sobre o tanque, fui na cozinha buscar a faca e, quando voltei, ele tinha ido embora.
- Foi embora coisa nenhuma! Onde já se viu frango morto sair andando por aí?
Saímos pelo quintal afora, em busca do frango fantasma e, sem perceber, segurava a espingarda, carregada com dois cartuchos. Fui andando pelo quintal e, ao chegar à beira de uma grota, ouvi o rosnado do meu cachorro, enquanto algumas galinhas esconjuravam ao redor.
Logo percebi o que estava acontecendo: o danado estava deitado no meio de uma moita de capim brachiaria e rasgava nos dentes afiados o frango, já todo limpo, que minha filha deixara sobre o tanque.
Senti um ódio tão grande que, num repente, empunhei a espingarda e dei um tiro certeiro na cabeça do maldito cachorro. E, aproveitando a espingarda e a inspiração, escolhi um outro frango, decepando-lhe a cabeça.
Levei-o para a cozinha e, entregando-o à menina, ainda trêmula, falei:
- Limpe este e fique despreocupada, que agora não tem mais cachorro para roubá-lo.
Como de costume o frango ficou muito bom.