HOTEL ESTORIL

O senhor José Antônio Lopes sempre desejou ser dono de hotel para conhecer pessoas dos mais diversos locais do Brasil e também para ter com quem conversar quando na velhice tranquila já não tivesse mais pique para administrar o negócio.

Depois de muito procurar, comprou um sobrado numa cidadezinha do interior para instalar seu hotel.

Prédio antigo, com salão no térreo, primeiro e segundo andares servidos por escada de madeira de lei, torneada com esmero por artífice de primeira qualidade.

Pela localização, bom atendimento, preço acessível e principalmente comida excelente em pouquíssimo tempo o Hotel Estoril tinha lotação perto dos 100% garantida para o ano todo.

Os vendedores viajantes, seus principais clientes, recomendavam aos colegas e faziam questão de deixar a vaga reservada para a próxima viagem em visita aos clientes da região.

Todos que já conviveram com vendedores sabem que são pessoas de papo agradável, que fazem amizades com qualquer um e que são de fácil trato, mas sabem também que são gaiatos, que gostam de brincadeiras, muitas vezes sem medir as consequências.

Alguém trouxe e deixou no degrau da escada um cocô de papel machê desses que são vendidos em lojas de logros e enfeites para festas do tipo halloween.

Quando o zeloso José Antônio viu ficou furioso, reclamou com a camareira aos gritos, esbravejou aos quatro cantos e mesmo quando se chegou à conclusão de que tudo não passava de brincadeira, ele ainda continuou a reclamar com deus e o mundo.

Na semana seguinte, outros hospedes e outro cocô, ainda maior, bem no meio do último degrau para o primeiro andar.

Nova confusão formada.

Novos gritos, novas ameaças, mas como da outra vez, não apareceu o autor da façanha.

Quinze dias depois, bem no meio do corredor entre os quartos do primeiro andar, lá estava novo cocô, bem maior que os anteriores.

Num acesso de raiva incontida, o senhor José Antônio chutou o cocô, mas esse era de verdade e sujou a calça branca de linho até quase o joelho além de espalhar-se pela parede.

Nesse dia as malas de todos os hóspedes foram jogadas na rua e nunca mais foram aceitos os seis viajantes que estavam hospedados.

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