Sebastião Coração de papelão

Seguindo um rumo desgovernado de uma desordenada vida Sebastião bebia cachaça de todas as cores, densidades, qualidades e sabores, fumava tanto cigarro que parecia uma chaminé de padaria, farreava a qualquer hora e em qualquer dia bastasse sentir vontade, sem malícia nem maldade ele estava sempre contente, alegre e sorridente num deleite quase utópico e surreal, Tião não sabia mas ele era o seu próprio mal, havia um certo bar do Tal onde ele passava maior parte do dia, ali por muitas vezes perdia a noção das horas e quando se dava conta que precisava ir embora já não tinha mais graça, levado e hipnotizado pelo jogo e a cachaça perdia além do dinheiro a saúde e a sua dignidade, com a velocidade em que tudo acontecia a sua vida incidia em erros tão sequenciais quanto os dias que passavam rapidamente sem nenhum sentido, era como se ele houvesse esquecido de viver e conforme um ciclo vicioso voltava para casa por vezes embriagado onde descansava a matéria para um novo dia em que retomaria a sua degradante rotina de trabalho, jogos e bebedeiras...

Tião tinha família equilibrada filhos lindos, saudáveis e mulher prendada, na contramão do seu comportamento desvairado havia ao seu lado uma mulher trabalhadeira que mesmo com toda adversidade não deixava nada faltar uma doceira de mão cheia, ela se arranjava como podia para engrossar a renda familiar que além de doces fazia cabelo, vendia geladinho, roupas íntimas e perfumaria, era madeira para toda obra, realizava verdadeiras manobras financeiras para equilibrar as contas, chorava lágrimas de sangue e sofria duras penas mas nunca deixou de lutar pela sobrevivência, sua resiliência era tudo que lhe restava já que desistir nunca foi uma opção.

Certo dia Sebastião do coração Divino sentiu-se mal, diagnosticado com problemas cardíacos precisaria ser submetido a uma cirurgia bastante delicada e em meio a toda aquela confusão inesperada era tamanha a aflição de sua amada e de todos os seus parentes , logo veio gente de todos o cantos para visitar Tião, todos movidos pelo amor, carinho, solidariedade e compaixão, por um ser que não gostava nem dele próprio.

Tamanha foi a comoção junto a gravidade da sua patologia que no leito de um hospital tendo a dor e a incerteza como companheiras após a dita cirurgia, Tião entendeu que toda a sua vida foi vivida de forma equivocada bares, farra, luxúria e desamor, tudo que desagrada ao criador do universo decidindo mudar a sua trajetória, ele morreu para este mundo vil em que vivia, então em uma dura madrugada reflexiva entregou-se ao Deus de Jacó, Davi e de Abrão, decidindo servir ao criador com toda força e amor do seu coração de papelão para escrever assim um novo capítulo e assim uma nova historia.

wagner santana
Enviado por wagner santana em 01/01/2020
Reeditado em 01/01/2020
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