Marechal Arretado

POUCO DEPOIS DO GOLPE MILITAR de 64, com a ditadura dando as cartas e jogando de mão, nas cidades do interior começou uma onda avassaladora de culto à farda. Os que antes eram apenas admiradores da farda viraram capachos de qualquer milico. E quando o milico possuía uma patente mais elevada, crescia a bajulação. Basta que se diga qe o sargento do tiro de guerra ficou com mais prestígio que o padre, o juiz e o prefeito. Fazia fila na porta da casa dele para entregar compotas de doce.

A coisa ficou ainda mais impressionante quando chegou à cidade um sargentão para efetuar uma investigação sobre subversão na cidade e no campo. Esse sujeito foi alvo da atenção e bajulação da natada tal sociedade. Colocaram-no no melhor hotel, melhor quarto, comida da primeira, bebida e, creiam, até arrumavam companhia feminina para o milico. Um assessor de um graúdo da cidade foi encarregado de arrumar as parceiras, fiscalizar se os cobertores eram de primeira e se os travesseiros eram macios. Da comissão de frente da bajulação faziam parte representantes de clubes de serviço, associação comercial, maçonaria e o escambau da tal sociedade.

Mas sucedeu decorrido algum tempo algo incrível que levou a sociedade chaleira de milico a entrar ainda mais em êta. É que certo dia o sujeito que arrumava mulher para o milico chegou na casa comercial do chefe (ela parecia mais quartel de tanto milico que fazia ponto nela) e bufando excitado gritou a novidade:

- Chefia, o senhor não vai acreditar, vi agora sozinho bebendo no bar do cinema um Marechal Arretado do Exército, fardado e cheio de medalhas. Deve ser um dos chefes da Revolução.

Imediatamente e regime de urgência se fez uma reunião extraordinária e resolveram ir em comitiva recepcionar o Marechal. Foram. Trouxeram o Marechal em carro aberto. No clube principal hpa havia muita gente, comida, bebida, serviço de som... Foguetões pipocaram, começou a festa, e depois os discursos laudatórios. Quando o último orador terminou, pediram ao Marechal que desse a uma palavrinha, ele que bebera e comera paca, accedeu e foi ao microfone e disse já meio bêbado:

- Juro que não sabia que o povo daqui gostava tanto de banda de música, o festival devia ter sido aqui e não em Serra Talhada. Eu sou o mestre de uma banda da zona da mata. Brigadão pela festa.

Foi u balde água fria, principalmente porque os gozadores souberam. Mas os chaleiras nao perderam tempo. Mandaram imediatamente um carro de praça levar o mestre de banda à sua cidade. Ele perdera a condução devido a um porre. Quando alguém falava no episódio do marechal os chaleiras ficavam com raiva. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/12/2019
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