Causos Cariocas
João ficou por horas olhando através da janela do hotel para ver se avistava Lúcia, mas nada dela. Era noite de sábado e o Catete fervilhava, carros por todos os lados e a boemia tímida do bairro antigo, alguns idosos caminhando com seus cães e o Palácio do Catete iluminado. Ficou impaciente, olhou o celular, tentou parecer calmo, ficou apertando os gradis da sacada, as pontas dos dedos vermelhas como brasas. Suas pálpebras tremelicavam de nervosismo e tensão, mas prometeu a si e a ela, que daria esse voto de confiança. Afinal, era só caminhar alguns passos até chegar à padaria. “Mas que diabos! Porque essa moleca está demorando tanto!?” Trovejou entre dentes. Olhou de novo, até que viu o ponto ruivo despontando. Os cabelos da adolescente voavam ao vento, ruivos, ruivos. Tão vermelhos, que pareciam chamas. O rosto fininho, as sardinhas. Tudo em Lúcia era meio místico, meio mágico e João gostava disso, só não gostava de quando ela demorava horas na padaria. A menina trotava, com um pacote cheio de pães de queijo borrachudos e parou, ainda, na banca de revistas em frente ao hotel para comprar chá mate e revistas de fofoca. João olha de cima com vontade de esganar, aporrinhado e preocupado. Chateado mesmo! Lúcia nem o viu, só subiu as escadas correndo e já ia passar direto, quando o seu impaciente namorado assobiou.
-Porque demorou tanto, menina?
-Encontrei um amigo...
-Amigo?- João levantou as sobrancelhas. Nem ciumento, nem chateado, talvez os dois.
-Sim, um cão muito bonitinho que me prendeu a atenção. – A menina ingênua riu deveras enquanto o rapaz, com a testa franzida, ranheta, lhe estendia uma bronca de olhar. Mas ela não se intimidou, só lhe tascou um beijo maroto na bochecha e lhe ofereceu pães de queijo, já completamente murchos pela espera de duas horas. Nisso, o João bravo, tornou-se em um sorridente rapaz, abraçando a ruiva e tocando-a pelo corredor até o quarto.
O Rio de Janeiro tem dessas coisas...