46 - Quarenta e Seis
Eu próprio ouço vozes. Em regra todas as que soam ao meu alcance e as muitas que produzo para quebrar a rotina dos meus solilóquios. Acompanho-me muito em conversas que nunca são convencionais. Faço as minhas vozes serem diferentes das que traduziriam pensares comezinhos para ampliar o mundo e fazê-lo sair da mesmisse. Mas a moça desta narrativa escutava vozes que não inventava, sons interiores, recados e conversas santos de que passaram a depender todas as vizinhas. - Vê, Mariazinha, se posso ter futuro com ele, se vou enricar pelo casamento, se o Augusto me poda a laranjeira esta semana. E a pequena, umas vezes dizia, outras fazia-se rogada. Seja como for, mandaram a história dela para Roma para tomar vez. Querem-na santa!