UM SUJEITO AVANTAJADO

Sujeito de aparência jovem, franzino e de estatura média, qual relata com entusiasmo seus feitos malfeitos, com aumentativo de causar inveja espantosa aos apreciadores de suas astúcias. Entre prosas e causos contados de aventura, chama atenção para não ser verdade. Mas, decerto, uma proeza em façanha. Um feito extraordinário; para deixar de acreditar ser de uma relevância insignificativa – um ato de braveza do bom valente sujeito.

Numa de suas comuns tardes de sábado, resolve sair do sítio que acomodava sua morada. Na sua companhia, além da braveza contida de característica peculiar, consigo o inseparável terçado, seu fiel companheiro pelas veredas que outrora trilhou o rei justiceiro do nordeste paraense, o destemido Quintino Lira.

O meio de transporte um dos não tão comuns naquele interior desinteriorizado, uma bicicleta que tinha tamanho apreço, de cor avermelhada, tom escuro que remete a braveza do tal sujeito. Montado no seu fiel transporte de duas rodas segue rumo ao centro da cidade. Pedalando por pouco mais de uma légua, a noite dando os cumprimentos ao dia, enfim, está no seu destino escolhido – um bar da cidade. Local de frequência cativa para rever amigos e de apreciação de uma boa aguardente. Momento perfeito para despairecer depois de uma longa semana de lida pesada no seu roçado. As avenidas e ruas da cidade sendo no presente instante o labirinto de suas andanças.

Ao cumprimentar os frequentadores do recinto já presentes, pede uma dose da boa cachaça à bela moça que de forma displicente espalhava simpatia por todo ambiente, que tinha como missão atender aos pedidos dos clientes. Ao elevar o copo para a degustação de sua primeira dose, aparece um Diferenciado Sujeito, qual jamais tivera visto outrora pelas redondezas que sem pedir licença, se intromete pedindo com ar de desaforo uma cerveja para quem ainda estava tomando a sua primeira dose de cachaça. Meio inconformado resolve atender ao pedido para não causar uma discórdia no nobre recinto. Depois de tomar a cerveja o Diferenciado Sujeito resolve colocar insultos ao Sujeito Avantajado, cabra que jamais havia levado um desaforo para casa – destrinchava todos que apareciam sem muito arrodeio e receio.

A convivência que acabava de iniciar já estava mais que no momento de ter seu ponto final, pois o Sujeito Avantajado percebe que seu oponente naquele recinto, além das afrontas, também disponha de olhares sedutores para a moça do balcão, qual era sua preciosidade em musa e de paqueras – porém, sem ela nunca saber. Decerto, o Sujeito que tinha em sua saga o percurso trilhado pelo Velho Gatilheiro, sente ameaçada sua tranquilidade. Tentando disfarçar sua ira, vai ao banheiro, momento que percebe o Diferenciado Sujeito ao ponto de lhe apanhar pelas mãos. Por ser um astuto, premeditando tudo estava a espreitar. Não tendo sucesso, o momento do primeiro enfrentamento entre os dois sujeitos, adiado é por mais alguns minutos.

Passado, uns minutos, o Diferenciado Sujeito o chama para uma partida de bilhar, ali mesmo naquele recinto, iniciara a prévia de um enfrentamento de gingantes. O Sujeito Avantajado por nunca rejeitar um insulto, vê no convite um desaforado desafio e aceita de primeira sem pensar duas vezes em perder a ilustre ocasião. Antes de terminar a primeira partida a discórdia estava feita e num piscar de olhos lá estavam os dois prontos para o duelo. O Sujeito Avantajado com seu terçado gume afiado apunhado e o diferenciado Sujeito com o taco de bilhar na mão, o salão tornara um requintado ringue. Tudo em perfeita harmonia para uma excelente briga, mas sempre há os inconformados e tomando a missão de aquietarem os valentões, adiando mais uma vez a hora desejada pelos dois sujeitos.

Indignado por deixar escapar o momento mais oportuno para resolver a desavença com o medonho, o Sujeito Avantajado monta na sua bicicleta e resolvi atravessar com poucas pedaladas a cidade para outro bairro, onde havia outro bar de costume frequentar, no outro lado da cidade, buscando agora paz, já que havia perdido sua maior oportunidade de travar um bom duelo.

Ao aproximar do seu novo destino, surpreendido é ao avistar o mesmo sujeito que lhe desafiara tanto naquela noite, a posto no balcão lhe esperando. Nessa hora a raiva triplicou que o couro da testa encolheu, o nariz deu sopro – os dentes rangeram, pôs-se a mão no cabo de seu companheiro de sempre – o terçado, pronto para travar sem piedade um duelo com a finalidade de dar cabo de vez no seu desconhecido adversário. Mas no mesmo instante resolve dar meia volta e sai apressadamente do local rumo ao seu sítio. Sabia que aquela não era sua noite de tranquilidade com a presença daquele sujeito que tanto já perturbava. E pedala mais de uma légua para ter; finalmente, sua paz restabelecida.

Tempo se passou – outros sábados também e, pelas andanças do Sujeito Avantajado pelas redondezas, o Diferenciado Sujeito não foi visto mais nas terras, que também, pisaram o Justiceiro do Nordeste Paraense. E, o Avantajado continua a frequentar o mesmo recinto, com sabor ou dissabor persiste em degustar sua aguardente em meios as suas prosas e causos.

Batista N Silva
Enviado por Batista N Silva em 23/10/2019
Reeditado em 23/10/2019
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