O MACUMBEIRO
Foi compadre Cambéu quem nos contou.
Cambéu morava em uma rua sem saída. As casas todas bem em frente à calçada, sem recuo, e os vizinhos, muito próximos, pois as moradias eram geminadas. Podia-se quase ouvir o que se conversava nas casas vizinhas. O fato se passou em uma cidade do Nordeste, onde faz muito calor e as janelas ficam abertas. Às vezes há uma grade para segurança.
Em frente à casa de Cambéu morava Hermenegildo, curandeiro, vidente, macumbeiro, homem que, se dizia, fazia amarração e desfazia relacionamentos. Sua casa era frequentada por gente do povo e também por elementos da alta sociedade. Cambéu via estacionarem carros de luxo em frente à casa de Hermenegildo.
O macumbeiro era um negro descendente de escravos, preto retinto, já velho mas parrudo. Era muito feio de feições, faltavam-lhe dentes e era vesgo. Cambéu via que uma senhora da sociedade, Dona Marlene frequentava a casa, amiúde. Ela era esposa de Dr. Acir, um causídico reconhecido, porém, galanteador, namorador. Tinha uma amante há anos. Presumia-se que Dona Marlene, mulher distinta e bonita, ia em busca de um “trabalho” para ter o marido de volta.
Certo dia, Cambéu saiu de casa para ir à venda comprar algo para o lanche da noite. Em frente à casa do bruxo estava o carro de Dona Marlene. Ao voltar, Cambéu passava em frente à casa do vizinho quando, pela janela entreaberta, viu algo que o chocou. O negro estava colado ao corpo da mulher enquanto a boca sugava seu seio.
Cambéu logo entendeu. Dona Marlene, no afã de recuperar o marido, aceitara a receita de Hermenegildo.
Se funcionou ninguém sabe.
O que se sabe é que ainda há gente que acredita nesses “trabalhos” e não são só os frequentadores do médium João de Deus.