O embornal e o pedreiro
...na sexta feira de tardezinha ele recebia seus míseros ganhos e no sábado pela manhã ia para a feira...colocava o embornal nas costas vazio e como mágica,após algumas horas,trazi-o cheio de inúmeras coisas...eu não entendia nada...espalhava tudo pela mesa de madeira pintada de azul,que balançava de um lado para o outro,as "pernas" ficavam trêmulas de tanta coisa...olhava para ele cheio de orgulho...o embornal vinha cheio de sonhos. Eu abria a porta para ele entrar...como aquele homem enorme passava por aquela porta..as vezes ele ficava menor que a porta,mas era às vezes,não eram todos os sábados...
Meu pai passava pela pequena casa exalando suor e aquele doce perfume do cigarro de palha...eu tentava sem sucesso agarrar as suas pernas... Ficávamos numa alegria só,mistura de comidas e brinquedos...
eu ficava sempre ,sentado na janela esperando ele chegar,minha mãe ficava me olhando, como quem perguntava...ele já está vindo? Mistura de preocupação e alegria...
...mas tinha dias que ele não vinha,eu ficava..ficava na janela...e ele chegava tarde,de tardezinha...chegava diferente,estes sábados eram cinzas... eu ficava triste,não era ele ...era outra pessoa...outro pai...o mesmo pai..mas em outro...eram as mesmas pessoas,mas diferentes...mas não era todos os sábados,era de vez em sábados...
Na maioria ele vinha bonito,cabelo cortado,orgulho no peito ,chapéu marrom na cabeça ...já gasto pelo tempo,bigode aparado,muito suntuoso,cumprimentando a todos pela rua... ... mas,outras vezes vinha cabisbaixo,cambaleando,reclamando,desarrumado...era aquele outro pai...não gostava daquele outro...meu coração chorava ...meu riso sumia...mas não eram todos os sábados,eram alguns sábados...
Sinto saudades dos sábados,dos alegres e também dos tristes,dos coloridos e dos cinzas...