25 - Vinte e Cinco
Não conheci o Mestre Onofre. Tinha uma amiga que o venerava e elogiava muito o único quadro que, até então, havia pintado: a Batalha de Campo d’ Ourique. Muito do seu tempo Onofre passava nas tertúlias da “ Brasileira do Chiado” provavelmente a falar no quadro e na batalha, de Dom Afonso ainda Infante, do recuado ano de 1139 em que cristãos e mouros ali pelejaram. Numa tal luta havia muito de tudo e talvez o pintor tivesse querido transmitir aos vindouros o belo horrendo do encontro de centenas de homens que se mutilaram reciprocamente, que de igual modo se matavam e morriam. Sangue, o cromatismo das fardas, os cavalos, os estandartes, a dinâmica do ódio ditado. Mas, depois de décadas a procurar o Mestre Onofre, nunca o achei. Tento saber em todas as telas de batalhas que vejo se alguma por ventura é a d’ Ourique, se não é a obra da vida do Mestre que se chamava Onofre.