Miss Manhattan

Nova Iorque, 1915.

A mãe atendeu o telefone, enquanto ela lia uma revista de moda. Imaginou que poderia ser alguém ligando para propor algum trabalho, e não estava enganada. A mãe geralmente cuidava da parte comercial, como sempre gostava de ressaltar e ela, da artística.

- Audrey.

Ergueu os olhos da revista e viu a mãe à sua frente, expressão pensativa.

- Sim, mamãe?

- Era da produtora Thanhouser. Perguntaram se você gostaria de estrelar o próximo filme deles...

Audrey ergueu as sobrancelhas, intrigada.

- Mas mãe... eu sou modelo, não atriz!

- Eles estão cientes - replicou ela, com um gesto de concordância. - Vão contratar uma garota parecida com você para as partes do filme que exigirem atuação...

- Mas se eu não vou atuar num filme no qual serei protagonista, o que exatamente terei que fazer? - Indagou Audrey.

- Aquilo que você sabe fazer melhor: posar. Nua e de boca fechada.

Audrey fechou a revista, enquanto avaliava a proposta. De fato, fora assim que conquistara sua fama. Miss Manhattan, a Garota da Panamá-Pacífico, a Vênus Americana. Posando para os maiores escultores dos Estados Unidos, estátuas derivadas do seu corpo perfeito erguiam-se em locais de destaque por todo o país, principalmente em Nova Iorque. E agora, surgia a oportunidade de deixar de ser apenas uma pose congelada em mármore e ganhar movimento...

- Você vê algum futuro nisso, mãe? - Indagou finalmente a jovem.

A mãe lançou-lhe um olhar curioso.

- A beleza passa, Audrey. No futuro, pelo menos as pessoas terão como visualizar a fonte de inspiração de tantos artistas.

Audrey pensou que talvez preferisse ser lembrada por outros atributos, mas como o seu íntimo não despertava tanta admiração quanto o seu corpo, era com o que podia contar.

- Certamente, as estátuas irão durar mais do que eu, mãe - respondeu.

- [08-10-2019]