O dilema

Arnaldo, um adolescente de dezessete anos, destaca-se dos demais colegas da sua faixa etária por ser compenetrado e sério. Todo dia, tanto indo como voltando da escola, passa em frente àquela padaria, pois é seu caminho obrigatório. Quase sempre está acompanhado por um ou mais colegas, batendo papo - e quando não, está absorto em seus pensamentos. Por essas razões ainda não tinha se dado conta das moças que ali trabalhavam. Num desses dias em que voltava sozinho, foi abordado por um rapaz que lhe entregou um pequeno bilhete. A caligrafia era feminina, dessas bem desenhadas, e dizia o seguinte: - “Vejo-o sempre passando por aqui e gostaria de conhecê-lo melhor. Que tal nos encontrarmos para tomar um sorvete? Lígia, 96969696”.
Arnaldo leu e não deu muita importância ao convite, porém resolveu mostrar o bilhete para Júlia, sua mãe, uma senhora de sessenta anos, que vive assistindo a filmes policiais na TV. Ela logo crivou o filho temporão de perguntas e recomendações, dessas de quem está preocupada. Talvez fosse um início de ciúmes, afinal, até ali não tinha conhecimento de nenhuma namorada, a não ser das meninas do colégio que estavam sempre à volta do garoto querendo alguma informação de estudo:
- Você conhece quem lhe entregou o bilhete?
- Viu a moça?
- É bonita?
- Cuidado! Não diga seu telefone e nem aonde mora!
- Não ligue para o celular dela, que nosso número vai ficar registrado.
- Pode ser algum esquema de sequestro.
Arnaldo riu e retrucou:
- Que sequestro, mãe? Lá somos ricos, por acaso?
À noite, quando o pai chegou em casa, sua mulher o pôs a par da novidade.
Este, já encontrando o cenário pronto, achou muita graça e resolveu esquentar mais ainda, também fazendo recomendações e alertas:
- Hoje em dia está cheio de travesti atrás de garoto novo. Fique atento!
- Cuidado filho, pode ser de algum pedófilo. Já pensou nisso?
Não achando graça na gozação, Júlia sentenciou:
- Vou lá amanhã e tiro isso a limpo!
Nesse momento, vendo que a coisa estava ficando séria, Arnaldo argumentou:
- Gente, o cara da padaria só me entregou o bilhete. Por que tanta preocupação?
No dia seguinte, Arnaldo resolveu conhecer sua admiradora secreta. Quando passou de manhã pela padaria, deu uma corujada e viu o rapaz, um velho e duas mulheres. Uma era velha e feia, a outra bem mais ajeitadinha e interessante. Sem muito tato e experiência, foi direto ao assunto:
- Quem é Lígia?
Esta se apresentou rapidamente. Era a mais velha e feia.
Nossa! Que falta de sorte. Tenho que sair fora. – Pensou.
- Quantos anos você tem?
- Vinte e sete! – Respondeu sorridente e sem nenhum escrúpulo.
Como sempre sem muito tato, Arnaldo deu o desfecho.
- Depois eu falo com você tia!
Dizendo isso, escafedeu-se.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 29/09/2019
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