Um estranho visitante
Um dia, nos idos da década de cinquenta, os habitantes da pequena cidade de Turuaí receberam uma visita muito estranha. Era um homem de aparência banal vestindo um terno preto. Usava também um chapéu da mesma cor de abas largas. Seu físico era pouco avantajado e sua altura estava perto de um metro e setenta. Sua idade era difícil de dizer por causa da barba grisalha que lhe cobria o rosto e do chapéu preto que nunca tirava da cabeça.
A sua chegada chamou a atenção dos moradores, porque havia muito tempo que por aquelas bandas ninguém adentrava a cidade daquela maneira. Por isso, passaram a olhá-lo com desconfiança. Depois de atravessar a rua principal, sem falar com ninguém, ele seguiu por uma ruazinha estreita, e como se conhecesse muito bem o lugar, abrigou-se em uma casa abandonada no fim da rua.
Na pequena cidade, as pessoas eram muito próximas umas das outras. A vida ali era muito sossegada e alegre. À noite, as crianças brincavam na praça da igreja e enchiam-na de alegria. Os homens de mais idade sentavam-se no banco da praça para jogar damas e conversar sobre política e fazer negócios. Os comerciantes tinham suas vendas movimentadas por pessoas que iam lá fazer compras, tomar uma cachaça e prosear. A intranquilidade começou depois que aquele estranho homem apareceu.
O que mais chamou a atenção dos moradores foi que todas as noites, ele saía vagando pelas ruas, olhando para todos os lados como que procurasse alguém. Não conversava nem pedia informações. Tinha o hábito de falar sozinho, e de vez em quando, rir de nada. Depois voltava para a casa abandonada, onde passava o dia, para na noite seguinte continuar sua jornada pelo povoado. E assim, para os moradores de Turuaí, ficou claro que aquele homem tinha uma missão e não iria embora sem realizar o que fora fazer ali. Conclusão a que chegou todos os moradores depois de exercitar seu imaginário tentando adivinhar o que ele veio fazer na cidade. Nas casas, as opiniões divergiam: Algumas pessoas achavam que era um perigoso assassino. Outras, que era um maluco vestido de preto. Mas, sua estranha atitude reforçava a ideia de que ele fosse realmente muito perigoso e estivesse ali para matar alguém. E assim, esta ideia se espalhou como água, à medida que o tempo escorria.
Alguns moradores foram queixar-se ao prefeito. Desde que aquele homem chegara ninguém podia mais dormir sossegado. Completando com as afirmações de que se tratava de um elemento muito perigoso, pelo fato de andar pela rua calado, sem fazer perguntas. O medo tomou conta de todos. As crianças não brincavam mais à noite na praça e viviam entocadas dentro de casa. Os comerciantes viram suas vendas se esvaziarem. As pessoas, desconfiadas, evitavam sair à rua à noite.
Num ponto estavam de acordo, precisavam se livrar daquele homem de terno preto que andava pela cidade â noite, sem dizer nada, como se fosse uma alma penada. Várias reuniões foram feitas para decidirem o que fazer com ele, mas as opiniões eram variadas e passaram-se dias sem que ninguém apresentasse uma solução concreta.
A rua se esvaziara. Fazia horas que a noite chegara. No silêncio da noite ouviam-se apenas os uivos dos cães. O homem de terno preto voltava para a casa. De repente um tiro ecoou em meio a escuridão. De manhã, ele foi encontrado morto na porta da casa abandonada.