Coisas da vida  

Por volta dos anos 50 um funcionário do Banco do Brasil era detentor de muito prestígio e quando então gerente de agência, quase se tornava uma autoridade. 
É verdade o que digo. Naquela época as personalidade mais importantes e respeitadas eram a diretora e professoras da escola, o padre responsável pela paróquia do bairro e o delegado de polícia.
Um juiz então, nem se fala, estava acima de qualquer suspeita e era olhado com o máximo respeito. Hoje em dia não tanto, o que é lamentável. 
Mas voltemos ao que me propus.
Amoedo, um morador lá de onde eu vivi quando criança, era um alto funcionário do Banco do Brasil, mas sua arrogância e falta de educação era de deixar qualquer um aborrecido. Não cumprimentava e nem falava com ninguém a não ser quando voltava para casa e parava no barzinho do caminho já próximo de sua residência, bêbado como um gambá. Essa expressão popular deve-se ao fato de ser o gambá facilmente caçado, pois atraído pelo cheiro da cachaça, vem, bebe e cai bêbado.
Era nesse momento deprimente da vida daquele senhor, que as pessoas maldosas, despeitadas e inconsequentes se desforravam da conduta dele, pois bêbado não tinha noção do que ocorria a sua volta.
Sacaneavam o homem de toda sorte.
Lembro que no bairro tinham duas piranhas bem safadas que se prestavam para beijá-lo no rosto, sendo que a segunda sempre com aquele batom vermelho marcava-lhe o colarinho ou a ponta do paletó. 
Misturavam sal e açúcar na sua bebida, a famosa saideira.  
Colocavam-lhe rabo de papel com os famosos e inconvenientes “barbantinho cheiroso” no exato momento em que ele se despedia, era o tempo exato para que chegasse em casa levando aquele maldito fedor.
Como a casa era bem próxima do bar todos ficavam aguardando quando ele entrava, ocasião em a gritaria da pancadaria e do esporro que a sua mulher, uma paraibana dobrada,  lhe aplicava era ouvido.
Era chamado de alcoólatra, mulherengo, depravado, enfim de toda sorte de elogios que vinha a mente da mulher, sempre acompanhado do chinelo que ela usava para bater.
Era só diversão o resultado da vingança que a turma impingia ao pobre coitado. 
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 15/09/2019
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