A surpresa
Quando vem alguma lembrança, temos que aproveitar e botar logo no papel. Hoje me lembrei de um vizinho de terras lá de Goiás, era um personagem bem típico do lugar. Morava em um sitiozinho ao lado de uma grande área da Fazenda Muquém ( a primeira que compramos naquele Estado). Homem dos seus sessenta e tantos anos, de mais ou menos um metro e cinquenta de altura, seu apelido Chico Muié, foi ganho porque tinha sido cozinheiro de comitiva que levava as boiadas pelo estradão.
Logo depois de adquirir esta fazenda, transportamos os tratores e implementos e os animais de custeio. Entre esses animais tinha um burro ruano que era de minha sela. Depois de acomodar as ferramentas e animais nos devidos lugares, deixei o Onofre, que já era morador da fazenda cuidando de tudo e viemos para São Paulo, demorando quase um mês para voltarmos a Goiás.
Na chegada à fazenda, já vi meu burro mancando. Logo chegou o Onofre dizendo que uma cobra venenosa tinha picado o burro, mas o Chico Muié, com suas orações o tinha salvado.
Não demorou muito chegou aquele homem baixinho e falante, montado em uma égua. Logo o Onofre me apresentou a ele, dizendo que eu era o dono da fazenda e do burro também.
Ele logo foi me falando que naquelas terras tinha muitas cobras, mas se eu permitisse, ele as mandaria para uma área isolada da fazenda, só que não poderia mais utilizar aquele lugar de jeito nenhum, pois elas não poderiam ser incomodadas. Meio desconfiado aceitei. Como ele conhecia as terras mais do que eu, ele mesmo estipulou o lugar para onde manda-las; assim foi feito, era uma encosta de morro que não servia para quase nada.
De fato, nas áreas de lavoura ou pastagens nunca mais foi encontrado cobra nenhuma. Por gratidão, já que ele disse que não cobrava nada pelo serviço, eu dei a ele uma das mulas, que ele já foi montado puxando sua égua. Daí para frente, ficamos amigos além de vizinhos.
Passado quase um ano que morávamos em Pires do Rio, uma certa manhã, fui sair de casa o Chico Muié estava me esperando. – Oh Paulista, que bom que você tá aqui, você não sabe o que aconteceu, e tô precisando demais de uma “emenda” sua. Preciso de um cheque pra levar no hospital. Minha nora fez uma surpresa grande pra nós, meu Deus do céu, que surpresa!
Fiquei imaginando o que tinha acontecido, talvez ficara muito doente, ou estava com alguma cólica, ou coisa parecida. Mas o Chico só falava da tal surpresa. Cheguei a pensar que ela tivesse tentado suicídio.
- Pois é Paulista, eu preciso levar um cheque seu lá no hospital, por conta dessa surpresa que ela fez pra nós.
Fui logo pegando o talão de cheques, pois queria ajudar o amigo numa hora tão difícil que estavam passando. Ele foi logo falando o valor do cheque, que prontamente entreguei a ele.
Ele já ia saindo quando perguntei curioso qual era a surpresa que sua nora tinha feito. –Ora Paulista, ela ganhou um neném nessa madrugada!