Verdes Campos
Numa certa época, um sujeito, gente boa, estava muito inconformado porque não conseguia melhorar de vida e começou a pichar, a falar mal da sua terra. Esculhambava dizendo ser uma cidade atrasada, perdida no tempo e espaço, com um povo conformado e acovardado, uma terra de merda (sic). Foi ampliando a sua ira contra a terra e o povo até que começou a ser evitado, deixavam-no falando sozinho. Foi quando arretou-se e resolveu ir embora e tentar a vida em São Paulo. Na saída, na hora de entrar no ônibus, tirou os sapatos e bateu a poeir dizendo: - Não volta mais para esta terra de merda!
Lá, em Sampa, segundo a família, pais e irmãos, arrumou emprego razoável num escritório, ele era muito bom e contabilidade e excelente datilógrafo. Mas, depois de alguns meses, contaram os familiares começou a ficar triste. Qual o motivo? Saudade da terrinha. Escrevia quase todo dia, longas cartas, queria saber de tudo, era uma lamentação, estava entrando em parafuso com saudade da terra de merda como chamava. O pior é que um caminhoneiro que sempre viajava a São Paulo encontrou-se com ele num bar, estava já meio alto, sozinho tomando Dreher. O cara relatou que ele estava chorando e quase desesperado e que contou que não aguentava mais viver longe de sua terra. Mais: que pedia insistentemente ao garçom para colocar uma mesma faixa de um disco de Agnaldo Thimoteo, aquela versão, "Os verdes campos da inha terra";. Quando o cantor começava, "Se algum dia/ a minha terra eu voltar/ Quero encontrar as mesmas coisas que deixei/ Quando o trem chegar na estação/ Eu sentirei no coração/ a alegria de chegar...", o sujeito chorava que nem bezerro desmamado.
Resultado: voltou apenas com uma malinha e um rádio daqueles Transglobe da Philco. Mas conseguiu juntar um dinheirinho e abriu um pequeno negócio. Nunca mais falou mal de sua terra e nao aceita que ninguém fale. Nas raras vezes que sai da cidade, acompanhando o time de futebol que vai jogar numa cidade vizinha, se sente nesta um exilado. E sempre ouve a música de Timoteo e chora, mas agora de razer porque voltou à terra amada. É caso verdade. Inté.