Cestinha em compotas

Era antes do reinado da tevê no interior à noite iam passear na praça principal da cidade, rodeá-la, namorar, bater papo enfim, era uma festa. O movimento só diminuía durante a sessão do cinema.

Dentre as turmas e patotas (hoje seriam galeras) que frequentavam a praça, uma era especial: a dos que retalhavam a vida alheia. Além de falar ma dos outros, havia os que mentiam demais. Um eles era um sujeito muito educado, um verdadeiro gentleman, incapaz de uma grossura, mas escorregava paca nas histórias que contava. Uma delas era sobre o tempo que servira na Aeronáutica no Rio de Janeiro. O sujeito contava que fora mesmo o cão chupando manga, inclusive conquistara várias mulheres de figurões da base aérea que serviu, contava até a paixão de uma louraça filha de um brigadeiro por ele. Mas o ponto alto das cabeludas era a sua fama de cestinha da Aeronáutica, o grande jogador de basquete, titular absoluto da seleção da Aeronáutica, excursionara bastante e era a atração principal do time: o cestinha da aeronáutica. É claro que a turma desconfiava, tanto nas conquistas como no caso do craque do basquete. É que na terrinha as suas conquistas amorosas eram quase zero, e nunca ninguém vira o distinto se interessar por esportes. Ninguém o vira sequer de calção.

Mas o cestinha sofreu um revés tremendo. É que o sargento do Tiro de Guerra gostava de basquete e na quadra de futebol de salão do Tiro improvisou também uma quadra de basquete. Quem fi o convidado de honra ara a inauguração? O cestinha, claro. E não pode se furtar. Teve que participar do primeiro jogo de basquete contra um time de Caruaru. Foi algo hilário: o cestinha de calção com uma pernas finas demais, sem nenhuma noção de basquete, não chegou nem a pegar na bola, desconhecia o jogo. No final, enquanto a turma ria e chamava-o de cestinha em compotas, ele ainda justificava: "É que tô meio enferrujado e venho de uma gripe danada". Nunca mias contou as façanhas no basquete. Inté.