O Desprezo

A cena ainda ia pela metade quando gritei:

- Corta!

Maria Luíza Marques e Sandro Rabelo, que estavam frente à câmera, viraram-se para mim, surpresos.

- O que foi? - Exclamou Maria Luíza, mãos na cintura e expressão contrafeita.

Levantei-me da cadeira de diretor e caminhei até ela. Ficamos os três, no meio do cenário, muito próximos.

- Você não está se entregando à cena, Maria Luíza - reclamei. - Como é o nome do filme?

Ela me deu um olhar enfezado, e resmungou:

- "O Desprezo". Um remake.

- E você, certamente, não é Brigitte Bardot - sussurrei.

- Nem você é Jean-Luc Godard, Renato - retrucou ela, me fuzilando com os olhos.

- Pessoal, pessoal, vamos com calma... - contemporizou Sandro Rabelo.

- Cale essa boca, Javal - atalhei, chamando o ator pelo nome da personagem. - Olha, Maria Luíza, estou ficando cansado dessa sua falta de profissionalismo e das crises de estrelismo. Quem diabos você pensa que é?

- Você me respeita! - Rugiu ela.

- Você se dá muito valor, Maria Luíza, e nem sei se é tão boa assim - provoquei. - Se houvesse dado praquele produtor, o Sandoval, não teríamos tido tantos problemas na filmagem do "Paciente Polonês"!

A reação foi imediata. Maria Luíza me deu uma bofetada, em fúria. Sorri, levando a mão ao rosto.

- Perfeito. É isso o que eu quero que lembre quando formos rodar a cena de novo...

Maria Luíza respirou fundo, voltando a si aos poucos. Sandro Rabelo ergueu a mão, timidamente.

- Renato, por favor... sem o tapa na cara!

- [02-08-2019]