Óia Só Qui Disgracêra, Sô...

Logo assim que saí de uma rodovia lá no interior de Minas e entrei na estradinha de terra que me levaria até o meu destino, me deparei com uma cena hilária e ao mesmo tempo tragicômica; uma senhorinha de uns sessenta e tantos anos, demonstrando muita vitalidade estava de pé bem no meio da estrada e usava um chicote, com o qual literalmente brigava com a sua mula que estava atrelada à uma carroça e pulava de um lado para o outro, fazendo com que a carroça ficasse até parecendo uma enorme pipoqueira, já que lançava espigas de milho para tudo quanto era lado. Ela, cheia de raiva, bradava aos quatro ventos toda a sua fúria, acompanhada dos mais peludos palavrões. Naquele primeiro instante eu até que me aproximei pensando em lhe prestar ajuda, mas sem saber o que fazer em uma situação daquelas, limitei-me apenas a ficar um pouco afastado, simplesmente 'apreciando' aquela inusitada cena. E foi só quando tinha tudo sob controle que ela percebeu a minha presença. Ela colocou as mãos na cabeça e olhando para as espigas de milho que estavam espalhadas para tudo quanto era canto, disse: "-Óia sô que disgracêra sô..." E diante daquela desastrosa situação ela, com aquela sua pequena boca sem dentes, conseguiu a proeza de abrir um grande e cativante sorriso... Acabei ficando por um bom tempo por ali 'catando espigas e jogando conversa fora' com ela; a Dona Creusa... Era isso que, segundo ela mesma disse; era o que mais gostava de fazer quando estava suas amigas colhendo aquelas espigas de milho, que estava levando para o mercadinho...