MiNiNuDiRuA( final)
Duas semanas sem que o menino aparecesse . Para o pessoal das redondezas era como se tivessem tirado a própria praça, com chafariz e tudo. Roseli, a moça que consertava cadeiras de palhinha parecia a menos conformada, olhar sempre fazendo uma varredura pela praça. Seo Carmindo, que sempre resmungava quando o menino aparecia com aquele seu sorriso escancarado, pedindo para colocar na conta o pingado com leite e o pão com margarina. Só que o menino nunca teve uma conta. Mas nunca deixou de tomar o pingado. Dona Justina nunca imaginara sentir saudade daquele moleque, que vivia pedindo para que ela pregasse um botão ou cerzisse uma bermuda ou camisa. Definitivamente aquele MiNiNuDiRuA estava fazendo falta. E ele não tinha nada, a não ser aquele sorriso cheio de dentes brancos e perfeitos, uma gentileza que emocionava e uma conversa fiada cativante, cheia de planos mirabolantes, fantasias e finais nunca realizados. Até o Seo Bressan, dentista sem diploma e que morria de inveja dos dentes do menino, sentia aquela ausência. Duas semanas. Isso não se faz. Se não tiver um bom motivo vai se ver comigo. Era o chafariz resmungando enquanto servia água a quem quisesse. (no meu conto chafariz resmunga. Você não manda em mim). No décimo sexto dia o milagre acontece. E lá vem o menino, ladeira abaixo, no seu passo gingado, sem pressa. Não fosse ele carioca da gema e cheio de x no sibilo das palavras e, qualquer um pensaria que estava vindo, alí, um baiano da gema. Roseli foi quem o viu primeiro e seu grito de alegria alastrou-se. Até o Biriba, cachorro mais indolente do pedaço veio ver qual era.
Foi um alvoroço na pracinha. e foi tanto alvoroço que surgiu, não se sabe de onde uma carrocinha de cachorro quente, um vendedor de milho verde e, até um imitador do Silvio Santos narrando a efeméride. Todos falando ao mesmo tempo querendo saber o porque do sumiço. E o menino sorria, e agora, também com os olhos, cheios de lágrimas. Ele nunca tinha percebido ou achado que tinha importância para tanta gente. Aos poucos, já sentado à beira do chafariz começou explicar seu sumiço.
- Vocês sabem que meu sonho era ser empresário e eu fui atrás do sonho, depois de ter uma idéia brilhante. Passei esse tempo procurando o que precisava, até que encontrei. A idéia é a seguinte. Tô montando lá no beco uma indústria de entretenimento. Quem nem a Disneilândia. Eu já falei pra vocês que la no beco o que não falta é criança. Aí, resolvi montar uma piscina, dessas enormes, de plástico reforçado. Cabem umas quarenta crianças de uma vez, se apertar um tiquinho. Vou cobrar R$0,50 por cinco minutos na piscina. Só que ainda podia ficar melhor e fui usando o bestunto pra aperfeiçoar a idéia. Depois de pensar muito deu um estalo no bestunto. Comprei dez caixas de pirulito, daqueles que é uma bola de açúcar enfiado num palito. Pois é, vai custar R$ 010. E vai ter música também. Já descolei um som três em um da CCE, Coisa da melhor qualidade.
- Endoidou, menino? Eles vão sujar a piscina rapidinho.
Vão não. O troço vai ser organizado. Já contratei quatro seguranças. Dois na entrada da piscina e dois na saída, que é pra ninguém invadir. Na entrada os dois seguranças recebem os R$ 060 de cada um.
- Mas dez centavos por um pirulito? Vai levar prejuizo, menino.
- Dez centavos a lambida. A lambida. Ja mandei fazer os folhetos no mimeógrafo da Rosinha e já preguei nos postes.
Inaugura domingo que vem e eu já tenho idéia nova, porque empresário de respeito se preocupa com seus clientes. A partir do mes que vem, depois que já estiverem viciados na piscina e no pirulito, quem faltar na escola e não fizer o dever de casa, não entra. Nem pagando.