A ALMA PENADA (HIST. DO BIDÚ 2)
O Bidú era mesmo uma figura ímpar, e para ele, os amargores da vida eram doces para a alma.
Todos nos sabemos, que quando Deus ama um homem, dá a ele três qualidades:
· A generosidade como a do mar:
· A simpatia como a do sol
· A humildade como a da terra
O “Senhor Bidú”, era assim. E como nenhum sofrimento pode ser grande demais, nenhuma devoção alta demais, ao mesmo tempo em que chorava, sorria. Ao mesmo tempo que jurava fidelidade, traía. Ele era demais; era um grande espírito.
Certa feita, voltando da fazenda do Sr. Cícero, ao se aproximar de uma pequena reserva florestal, isso por volta das 18/19 horas, de repente estancou a caminhada, pós as mãos na cintura (era seu hábito), arrancou o facão que trazia e em posição de ataque bradou: “Você fio do Kabrunco, que está de tocaia no tronco da gameleira, pule pra estrada que vou lhe comer no facão”.
O indivíduo não lhe deu ouvidos, lá estava e lá ficou.
Ele continuou a berrar e, o individuo nada; parecia até que zombava; colocava as mãos nas “cadeiras” (cintura).
Vamos seu cabra da peste, pule pra estrada que quero te vê.
Nenhuma resposta. Muito pelo contrário, ao invés de obedece-lo, o tal sujeito começou a se balançar de um lado para o outro como se fosse atacar de repente.
Então, como aquela silhueta tinha características de seres encantados e contra seres daquela natureza ele não podia fazer nada e a mata já possuía o estigma de “mal assombrada”, pois, todos na região diziam que era habitada pelo “Zumbi”, pela “Caipora” e outros espíritos, não lhe restou outra alternativa a não ser dá meia volta e rumar “espavorido” para a fazenda do Sr. Cícero.
Lá chegando, todo bufento, embocou casa à dentro, preocupando sobremaneira o Sr. Cícero, avexadinho veio logo socorre-lo. “Seu Bidú, o que houve? Ele, coitado! Quase botando os bofes pela boca e mal conseguindo falar, sentou-se num canto e após alguns minutos conseguiu relatar o acontecido”.
O Seu Cícero, de imediato, associou a história à do “Ladrão do oco do pau” (O cara roubava roupas e as escondia no oco de um pau) . pelo amor de Deus! Ele voltou. Agora ele está atacando as pessoas na matinha. De imediato formou uma escolta armada e foram comboiar o meu pai até sua casa.
Ao se aproximarem da tal matinha, adentraram-na com muito cuidado e, eis que de repente quem foi avistado no pé da gameleira? O tal sujeito. Com a maior cara-de-pau, continuava lá como se nada tivesse ocorrido. Tava lá. De vez em quando se balançava como um legítimo pugilista. Gingava de um lado para o outro com um jogo de cintura impressionante.
Todos gritaram, ameaçaram e nada. O individuo parou de se mexer, parecia que estava com medo também. No meio do impasse, surgiu um individuo destemido resolveu se aproximar da tal “Alma Penada”. Foi se esgueirando, sorrateiramente se aproximando e ao chegar mais perto e tremendo de medo da “alma mal assombrada”, qual não foi a sua surpresa.
A tal “Alma Penada” nada mais, nada menos, era que uma palha de bananeira, que após ter sido usada como guarda-chuva foi atirada para fora da estradinha e ficara fincada no mato, com o vento, a palha balançava para lá e para cá, mostrando os seus dois lados, o acinzentado e o esverdeado, causando no meu pai a sensação ilusória de um individuo muito perigoso e pronto para atacar. Além de ser muito forte e ágil; com certeza absoluta era um Ser Encantado da Caipora.
Descoberta a magia, iluminado como sempre, ele gritou! “Essa mata é mermo incantada, transformou o cabra numa folha de bananeira! Será que ele vai desvirar novamente”?