Os peões
Em nossa adolescência na fazenda que na época pertencia a meu pai (Nico) e ao irmão mais novo (Luiz), meu padrinho, eu e o Edu, (meu primo) já estávamos fazendo uns negócios, além de ajudarmos na lida da fazenda. Naquela época, as fazendas tinham muitos moradores, que plantavam milho, arroz, mandioca, feijão, além de cada família ser responsável de tocar um talhão de pés de café. Além desses colonos, tinha também os carreiros que transportavam as colheitas, estercos, mourões para fazer cercas, e também arar e preparar as terras para os plantios. Os peões que ordenhavam as vacas e depois montavam a cavalo e iam para a lida nos campos, para o manejo do gado solteiro, vacas paridas, garrotes, novilhas, tudo funcionava muito a contento; esses peões também cuidavam das éguas da fazenda, que criavam principalmente os burros e mulas que eram domados para o serviço da fazenda.
Hoje vou falar um pouco de um desses peões, o Tonhão. Ele veio para a nossa fazenda com 18 ou 19 anos, já casado e com um filho de poucos meses. Tonhão tinha sido criado em uma fazenda vizinha, muito maior que a nossa, mas pensa num peão, como se dizia, “ pau para toda obra”. Tanto que ele trabalhou conosco a vida toda. Mas o que ele tinha de bom no serviço, também tinha de malandro. Aprontava com todos os outros, inclusive com nós, os “patrões”.
O Tonhão é que domava os animais da fazenda, muito cavaleiro, forte, disposto, enfrentava qualquer perigo sem medo de nada, mas sempre aprontava alguma brincadeira, ou para assustar a gente ou o cavalo que estávamos montando. Foi ele que nos ensinou a manejar o laço, a tocar berrante, etc. Quando saíamos para buscar ou entregar o gado que tinha sido negociado, todos nós, tinha que ficar bem espertos, porque sempre ele estava pensando em alguma malandragem.
Certa vez saímos para buscar uma boiada que meu pai e meu tio tinham comprado em Minas, viagem para 8 ou 9 dias, estávamos em 5 peões: Tonhão, Antenor, eu, Edu e o ponteiro, menino dos seus doze ou treze anos, o Joãozinho, nascido na fazenda, filho do carreiro Dito. Joãozinho ia na frente com seu berrante tocando, avisando se tinha entrada aberta, encontro com outra boiada, etc. Andávamos cerca de seis a sete léguas por dia, conforme os pousos que a estrada oferecia.
Num desses pousos, chegamos por volta das cinco horas, contamos o gado, soltamos a tropa, tomamos banho numa volta do riozinho no fundo do pasto do pouso da boiada. O seu Joanim, dono da posada, já estava com a janta pronta (que para nós era o almoço), pois só tínhamos comido goiaba e algumas mangas, o dia inteiro.
Arrumamos as camas e logo fomos dormir, porque sem energia elétrica e o cansaço da jornada, não tinha o que fazer. Lá pela meia noite, o Joãozinho chamou: Oh seu Tonhão, oh seu Tonhão, oh seu Tonhão. Todos nós estávamos acordados, mas ninguém respondia. Ele continuou a chamar cada vez mais alto, até que começamos a sentir um cheiro ruim, daqueles de penetrar na cabeça mesmo. O Tonhão respondeu:--O que foi muleque, o que Ocê quer?
>> Ah, agora já cagui. <<