A IDOSA E AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ
A velhice traz consigo a serenidade característica. Porém, também, suas perdas, temores e solidão. Especialmente se não houver uma preparação para recebê-la. A rotina da juventude faz com que esqueçamos que o tempo corre rapidamente, e de repente percebemos que o nosso corpo já não é mais portador das diversas habilidades das quais necessitamos em nosso dia a dia. À medida que envelhecemos passamos a nos apoiar nos recursos interiores que possuímos, substituindo as perdas exteriores que sofremos. Sentimos o nosso corpo mais debilitado, passamos a não mais nos envolver com as coisas do mundo exterior, mesmo que permaneça nosso interesse pelos acontecimentos. Começamos a nos preocupar mais com as recordações de nossa juventude, e logo vêm às cobranças do pensamento, a nítida certeza de um tempo perdido que não voltará jamais.
Esta é uma fase de nossa vida da qual teremos que projetar uma prévia preparação espiritual para enfrentarmo-nos, buscando em Deus, os recursos necessários, para nossa espiritualidade. Temos que conscientizarmos que a sequência nas perdas que teremos é inevitável, e será necessária muita fé para suportá-las com prudência, não nos deixando abater pela tristeza. Nossas aspirações são todas conhecidas por nosso pai celestial, e não devemos decepcioná-lo com atitudes indesejáveis.
A solidão e o isolamento excessivo são uma passagem que conduz a depressão. Este é um vazio criado pela precipitação de muitas pessoas que buscam em caminhos errados uma substituição por algo perdido. Não irá jamais encontrá-lo. Certamente, a saída seria a criatividade, a busca de um Deus verdadeiro e inspirador, que nos ajudasse a encontrar na alegria de viver a autoestima. Todo ser humano deve estar sempre em busca de si próprio.
Pela lei natural das coisas, na medida em que envelhecemos, as dificuldades vão aparecendo. Daí a necessidade agir com certa lisura em nossa trajetória de vida, praticando boas ações. De acordo com aquilo que semeamos na seara de nossa existência, serão os frutos que vamos colher na velhice.
Agindo-se mal; com certo individualismo, semeando somente aquilo que necessitamos para a nossa sobrevivência, a quem iremos recorrer?
É nessa hora que vamos sentir a falta de um entrosamento solidário durante nossa caminhada pela vida, no meio em que cultivamos nossa convivência.
Atualmente com a cobertura previdenciária beneficiando à pessoa idosa, a velhice está um pouco mais amena, do que no passado, quando ao envelhecer sem forças para trabalhar, o idoso de poucos recursos finaceiro, vivia praticamente a mercê de sua própria sorte, dependendo apenas da caridade alheia. Alguns se sentiam tão amargurados que praticavam atos incompreensíveis.
Certa ocasião a sociedade São Vicente de Paula construiu em seu terreno, aqui no Engenho, um conjunto de moradias para as idosas assistidas por sua organização. Coube a eu transportar em carro de boi, a mudança de uma idosa que morava há anos, numa casa em uma propriedade rural pertencente ao meu pai.
Chegando ao local deparei-me com uma sena inaceitável, esta senhora com uma faca de cozinha acabava de cortar uma laranjeira plantada por ela no terreiro da casa, imagino pelos sinais que ficaram no toco, ela devia ter gasto várias horas para concluir o trabalho. Fiquei chocado com sua atitude.
A árvore levaria no máximo um ou dois anos para produzir.
Tempos depois um seu genro que vivia abaixo da linha de pobreza, sem lugar onde morar, foi residir na mesma casa cedida por meu pai a ele. Morou lá por mais de dez anos.
A laranjeira brotou e produziu frutos por um longo tempo, alimentando sua numerosa prole, netos da idosa.
“Plantar uma arvore frutífera é um gesto de amor, uma atitude nobre que agrada a Deus... Não importa quem no futuro vá saborear seus frutos; se os seres humanos, os animais silvestres ou as aves do céu!”
Obs:(ilustração iamgem do Googlo)