Wakizashi
“Agora seu espírito está nos braços do Rei meu amigo”.
Namba Okamoto estava caído junto a seu cavalo, perdera a vida defendendo os ideais em que acreditava e isso era o máximo que um guerreiro de sua envergadura almejava para sua existência na terra. A seu lado torturando-se de remorso permanecia parado seu grande amigo Sampei Murasaki.
Quando chegou no vilarejo no início da noite já era tarde demais, algumas casas estavam em chamas, e pessoas tinham sido levadas cativas; Murasaki cavalgara o mais rápido que pode quando recebeu a noticia de que a guarnição de seu melhor amigo seria vítima dos ataques da força das sombras; um exercito de assassinos treinados para matar por dinheiro cuja tarefa era unicamente pilhar as aldeias onde houvesse algum general adepto do bushido; entre essas tropas diziam as pessoas, haviam combatentes conhecidos como mestres da morte; para cada tropa existia um e somente um mestre da morte, os segredos que eles carregavam não poderiam ser divididos, pois o peso e o preço eram muito grande. Nem soldados, nem generais suportavam a idéia de que indivíduos cuja honra tornar-se corrupta e que a única lei que seguiam era a lei do dinheiro pudessem viver livres sem nenhuma penalidade; muito embora ninguém tenha visto qualquer um deles.
Eram mestres na doutrina da invisibilidade, caminhavam entre as pessoas como o vento que passa suave sem ser notado e ceifavam vidas com a destreza da própria morte.
“Sei que ele esteve aqui”_ falou Murasaki tomando do chão a katana do amigo._ Agora sou o último wakizashi, e talvez seja verdade o que dizem.
Naquele tempo se falava que em confronto uma wakizashi; espada curta feita para combate de pequeno alcance não poderia derrotar a temida ninja to; lâmina usada pelos mestres da morte. O clã wakizashi tinha sido caçado por seus inimigos políticos que deslealmente contrataram os assassinos para por um fim em todos os clãs que fossem contrários à restauração Meiji. Era o fim dos 256 anos do Xogunato Tokugawa.
Dois soldados que estavam sobre o comando do samurai Sampei Murasaki chegaram para avisar que deviam sair daquela vila, parte do exercito imperial passaria naquele lugar; eram traidores; Satsuma, Choshu e Tosa; colocaram o exercito particular de seus feudos a serviço do império Meiji e varriam todo o Japão dominando os últimos seguidores dos Tokugawa.
Os três caminhavam pelos campos de arroz de volta ao lugar onde tinham deixado seus cavalos; a lua cheia brilhava gigantesca no horizonte e o pensamento de Sampei estava voltado aos tempos em que os samurais eram mantenedores da justiça, da honra e da verdade.
Finalmente chegaram a algumas árvores onde seus cavalos estavam amarrados, o samurai prendeu a espada de seu amigo no dorso do animal quando percebeu que algo estava fora do normal; um de seus soldados tombou de repente num baque surdo. desembainhando sua katana, Murasaki visualizou a estrela na nuca de seu fiel soldado caído; somente os samurais possuíam as indumentárias protetoras que poderia protegê-los de tais assaltos, mas os soldados não.
“Ele está aqui! Prepare-se.”_ gritou para o outro, mas também já era tarde.
Seu outro companheiro tentava dizer algo, mas a voz não saia, e lentamente caiu na frente de seu general sem que este pudesse ajudá-lo. Sampei Murasaki seria novamente provado no fogo da batalha, e estava pronto para fazer como seu amigo Okamoto que combateu até o fim.
Um fino silvo estranho surgiu reverberando no ar, e em segundos a espada de Sampei se moveu rebatendo duas outras shurikens que vinham em sua direção.
Ele não podia esperar um confronto honrado contra tal inimigo e permanecia em posição de combate com o máximo da tensão que um guerreiro que enfrenta a morte de frente pode suportar; apertava o cabo de sua katana com as duas mãos. E de repente o vulto surgiu como que saído do chão, atacou três vezes com uma velocidade incrível e desapareceu como se levado pelo vento; não foi possível ver seu rosto, apenas um borrão negro se movendo.
Felizmente Sampei bloqueara dois dos ataques, mas foi o suficiente para que percebesse que se demorasse só mais um milésimo estaria inutilizado nesse momento; o terceiro ataque dividiu a ombreira de sua indumentária separando-a do resto e cortando fundo seu ombro, os outros dois ataques respectivamente buscavam acertar o pescoço e os joelhos.
Novamente os silvos ressoando no ar e o samurai teve de rolar pelo chão para não ser alvejado por mais algumas shurikens; um outro golpe que veio do nada arremessou a katana longe e finalmente a figura apareceu, abaixado envolto em roupas negras, uma máscara que deixavam apenas os olhos serem contemplados e por sobre a máscara um capuz preso por uma tiara prateada com o símbolo da serpente do paraíso; símbolo escrito em ideogramas kanji antigos, que identificavam o clã Shinobi com o maior número de assassinatos sobre os ombros.
O ninja permanecia parado observando o oponente e segurava sua espada de forma inversa, com a lamina em direção ao cotovelo. A lua parecia brilhar mais intensamente e no momento do ataque seguinte Murasaki finalmente desembainhou sua Wakizashi; seria o batismo de fogo, frente a frente às lâminas da justiça e da morte beijando-se em fúria. Enquanto lutavam eles caminhavam de um lado para outro golpeando e sendo golpeados, esquivavam-se e até mesmo quando estavam de costas um para o outro ainda se atacavam com técnicas dominadas somente pelos maiores. Por vezes a lamina da ninja to passou próximo demais da face do samurai, cortando o ar e parte de seu longo cabelo, por outro lado a wakizashi era leve como uma pluma e mortal como uma fera, o samurai exibia toda a sua destreza e astúcia, livre do peso da katana, e isso surpreendera seu inimigo.
A noite avançou e o barulho provocado pelo entrechoque das lâminas ecoava para muito longe do local onde estavam; por fim eles pararam frente a frente com suas espadas uma contra a outra medindo forças, olhos fixos e vitrificados um no outro; estavam cansados e suados desgastado pelo combate que havia mostrado extrema igualdade entre os desiguais.
As lâminas deslizaram uma sobre a outra e seus portadores recuaram um para cada lado cerca de dez passos; seria o fim da batalha para o bem ou para o mal. Retomando a posição de combate ambos partiram correndo cada qual na direção de seu oponente e no momento que se encontraram pareceu um único corte, os dois continuaram mais alguns passos e pararam na posição em que estavam longe um do outro; espadas paradas no ar.
Pareceu apenas um único corte, mas no lugar do encontro havia um círculo formado, pois suas espadas tocaram o chão várias vezes numa velocidade tal que qualquer um que visse se assustaria. O shinobi vacilou e sua espada caiu, em seguida ele erguendo a mão convocou a terra para vir em seu auxilio mais já não havia mais tempo; mesmo assim a terra respondeu com um leve tremor que atingiu aquela região. O Ninja desabou.
Sampei Murasaki estava de joelho, feliz por ter enfrentado de igual para igual talvez o maior oponente que um samurai podia enfrentar, mas também sentia que seu tempo era pouco, lembrou-se de seu amigo Namba Okamoto, sua esposa Aiba; lembrou-se da Justiça, da Verdade e da Honradez com que tentara se portar durante seu aprendizado e por fim agradeceu por ter podido ver antes do fim algo que julgava ser uma lenda; a técnica Shinobi usada para conclamar a natureza ao combate que derrubara tantos generais antes dele. E então caiu.