Ahhhhh.... fuminho!
Uma das propriedades que tivemos, era no Município de Patos de Minas,
numa currutela chamada Bom Sucesso de Minas; a uns 80 km da cidade e uns trinta e tantos do asfalto.
Lá tudo é bem devagar, quase parando, quase todas as pessoas são
parentes, compadres, comadres, agregados, amigos, povo bom, cada um com sua terrinha, suas vaquinhas, um roçado, uma vida típica de roça mesmo. Aos domingos uma das únicas diversões era ir no Boteco do Afonso, onde tinha umas duas mesas de sinuca, umas quatro ou cinco mesas de truco, que fazia uma barulheira danada.
Era : -#*$#%; Truco papudo!
- -#*$#%; Uai sô, quero vê o que cocê tem?
- -#*$#%; Uai , eu tô de sete copa.
- -#*$#%;Perdeu papudo, eu tô de zapi.
E assim ia o dia inteiro, de vez em quando uma pinguinha do engenho do seu Zé Faria, um espetinho alí do boteco, uma cervejinha, um cigarrinho de paia e outros catirando tudo quanto era coisa. A catira é o ponto forte dos encontros da mineirada, tá no sangue.
Troca-se porcos por galinhas, juntas de boi carreiro por vacas de leite,
burros por carneiros, cavalos por semente de capim, e assim vai.....
Num desses domingos que a bolsa de mercadorias estava a todo vapor, de repente, chegou um Opala amarelo, daqueles que ninguém precisa avisar, desceu um caboclo alto, barbudo, mau encarado. Entrou no boteco, pediu uma pinga, tomou num gole só. A bolsa de negócios parou, os jogos de truco, as mesas de sinuca, todos observando o tal estranho.
Pediu mais uma dose e falou pro Afonso : - -#*$#%; Uai sô, eu venho lá do outro lado do Abaeté, onde adquiri uns rolo de fumo e tô querendo vende pro ocê!
O Afonso olhando bem no zóio do estranho, falou :--#*$#%; Ocê num robô esses rolo de fumo não?
- -#*$#%; Não sô, eu so trabaiadô que nem ocês mesm, eu catirei esse fumo foi numa égua !
- -#*$#%; Bão, sendo assim eu posso até compra, mas quero que o seu Adão expremente, se ele acha que é bão, podemos conversa.
Seu Adão com seus oitenta e tantos anos já foi arrumando uma paia,
alisando com o canivete, enquanto o tal homem pegava um rolo de fumo
do porta malas do Opala "cheguei".
Ele colocou o rolo de fumo em cima do balcão, seu Adão já cortou um
pedaço e começou a picá. A atenção estava toda voltada para aquela cena na maior expectativa. Seu Adão, com a calma que só ele tinha, picava e repicava esse fumo, até que começou a enrolar o famoso cigarrinho de paia.
Quando acabou de enrolar o cigarrinho, deu uma lambida na paia, sentou-se num banquinho, tirou a binga do bolso e tacou fogo no bicho. Ninguém falava nada, um silêncio que mais parecia um velório; todos querendo ver o resultado.
Seu Adão entre uma fumaçada e outra ia tornando a expectativa mais
agoniante ainda, dava uma gusparada, mais uma fumaçada até que
começou a falar baixinho :--#*$#%; Ah fuminho ! Ah fuminho ! Ah fuminho fia da p-#*$#%, num serve nem pra mata berne!!!!!
Nessas alturas o tal homem já tinha carregado o rolo de fumo, saiu
jogando cascalho pra traz que nem as pingas pagou.