A Serenata

Estávamos morando em Pires do Rio Goiás, há mais ou menos seis meses. Morávamos no centro da cidade numa casa muito boa que compramos ainda por terminar ao final ficou muito bonita. A família ainda em fase de adaptação, o povo goiano, muito acolhedor sempre dando muita atenção e nos ajudando no que podiam. Davam receitas e iam em casa ensinar como se preparavam as guloseimas mais variadas. Aprendemos a preparar e gostar do pequi, guariroba, pêta, biscoito e muitos outros pratos deliciosos. Churrasco todas as sextas feiras.

Num certo dia, cheguei à tardinha, como de costume, minha esposa estava um tanto esquisita, mais quieta, pensativa, percebi que queria me dizer alguma coisa, mas não achava jeito. Depois de muito insistir ela me revelou que vinha recebendo uns telefonemas meio estranhos.

Fiquei chateado, mas como o nosso amor é muito estruturado e a mútua confiança é maior que uns simples telefonemas, ficou por isso mesmo. Só ficamos de olho em algo diferente que por ventura acontecesse.

Passou-se uns dias, tudo normal, mas numa certa noite, fomos acordados por uma música maravilhosa. Ficamos ouvindo um pouco, mas parece que era ao vivo, alí na rua. Levantamos. Fomos sem acender luzes, espiar através das cortinas. Pensamos, aí estão os fulanos que fazem as tais ligações, pensei em pegar minha arma, pensei em ligar pra polícia; mas não fizemos nada disso, só queria ver se conhecia alguma daquelas pessoas. Não reconhecemos ninguém.

Cantaram mais um pouco, como nós não saímos para ver, foram embora.

Nós não conseguimos dormir o resto da noite.

De madrugada, sai pra ver se havia alguma coisa que me chamasse a atenção. Fui até o Hotel da cidade, tinha uma camionete de Piracicaba que eu não conhecia, parada em frente. Entre e perguntei ao porteiro de quem era. Ele me disse: - São todos amigos seus, falaram que fizeram uma serenata, mas vocês não abriram as portas e assim vieram embora.

Que vergonha meu Deus. Foram de Piracicaba a Goiás, nos fizeram serenata e nós pensando nos tais telefonemas....

Esperei eles levantarem, eram os amigos: João Marchini, que toca violão demais, Serrinha na viola, Jacy Morgam e o Toninho Marchini que cantam até hoje como poucos.

Aí, desfeitos os mal entendidos da noite, pedimos mil desculpas, (espero que tenham nos desculpado) e para compensar passamos uns dias só churrasqueando e cantando. Foi a melhor semana de todo o tempo que moramos em Pires do Rio.

Que saudades!!!

Luiz Antonio Piccoli
Enviado por Luiz Antonio Piccoli em 01/05/2019
Reeditado em 02/05/2019
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