A Viagem
Em uma das viagens à procura de terras para comprar, fomos parar em Conceição do Araguaia no Pará, Isso no início da década de 80. Chegamos lá, alguns corretores já nos procuraram,
vimos algumas propriedades, por sinal muito boas, mas ainda era uma região muito bruta, muita mata, os desbravadores ainda com a aparência mais para pistoleiros do que para trabalhadores, ostentando suas armas. Um dia fui ao único posto telefônico da cidade, pedi uma ligação para são Paulo, a telefonista me disse que só lá palas nove horas da noite, que conseguiria completar. Jantamos e fomos ao tal posto telefônico, tinha umas trinta pessoas esperando as ligações, aquela fila. Na minha frente tinha um desses desbravadores, quando
chegou a vez dele, ouvia-se ele falar com o patrão, que certamente seria de Brasília:
-Ói Dr., as máquinas vão indo no rumo, agora chegou numas casas de paia e lá tem gente, o quéqueu faço?
Deu –se um intervalinho, o homem continuou:
-Então a ordem é essa, avisa que vai passá ali, se não saí, passa por cima. Tá bão Dr., tá falado, Ordem dada, ordem cumprida!
Chegou minha ligação.
– Oi tudo bem aí, você tá bem, as crianças, o pai a mãe, tudo bem? Chegamos antes de ontem. Se vamos ficar muitos dias? Amanhã estamos indo embora.
Fomos pro hotel, não via a hora de amanhecer, tchau! Bora daqui, não estamos prontos pra enfrentar isto aqui não.
Estávamos em três, eu, meu primo e o Toninho. Cada um tocava uns duzentos e cinquenta quilômetros, uma parada, às vezes almoço, e lá vai indo. Depois das jornadas dos dois, toquei o meu trecho, já escurecendo; nada de posto, nem lugar para dormir. Já estava bem
cansado, avistei um postinho meia boca, onde abastecemos e comemos um “trem” único ali. Não tem pouso. Vamos tocar mais um pouco, ver se acha algum lugar pra dormir.
Vez do Toninho guiar. Deitei no banco traseiro, dormi. Meu primo no banco do carona, dormiu. Toninho, vai que vai. Depois de umas duas horas, acordei. Comecei a ficar
preocupado. Olhava as placas dos quilômetros da Belém-Brasília, estavam diminuindo.
-Toninho, quando você saiu do posto, pegou pra esquerda ou direita?
-Peguei pra direita, porque?
-Nós estamos voltando pro Pará!!
Já tinha andado quase duzentos quilômetros !!