Química tem gosto ruim!
A professora não para de falar. Fala, fala e mais falas. Nunca achei que uma aula de química pudesse ser tão inútil para mim. Não gosto de nada que se passa entre nêutrons ou átomos. Na verdade, eu sempre acreditei que seria melhor ir embora da escola e fazer qualquer coisa que não envolvam cálculos.
Cálculos: Deus deve abominar esse negócio.
Nessa instituição maravilhosa, estupenda, há um nível muito especial de reprovações em química, física e matemática. Por que?
Ora, é simples: O nível de avaliação para o ingresso aqui é muito baixo. Já as provas do cotidiano da escola são muito complicadas dado o nível de instrução que recebemos. Em relação ao nível de instrução não podemos reclamar, temos aulas ministradas com profissionais de alta qualidade acadêmica.
Bem, existem os pedagogos que são a prova viva de que a faculdade de pedagogia precisa urgentemente de profissionais inspirados em Nietzsche e parar um pouco de ler tanto Piaget e Maria Montessori. Mas, as que trabalham aqui são até legais.
E a aula de química continuava...
Para falar a verdade, meus pensamentos estão longe. Como não pensar nela? Muitos pensamentos confusos na minha cabeça, como aquele dia de domingo, eu estava igual estou hoje.
Sentia aquelas borboletas no estômago.
Tudo que me fazia lembra-la era de extrema dificuldade e sofrimento naquele momento. Já eram 17:00 horas, e eu estava meio com sono, meio ansioso. Ansiava em vê-la. Vê-la naquela forma exata em que seu corpo se estendia, parecia um presente de Deus. De fato era um presente, mas, não havia de ter sido Deus quem teria feito ela. Decerto era bela, cheirosa e gostosa. Até minha mãe gosta dela! Na verdade, minha mãe é perita nela, minha mãe, ah, minha mãe...
Lá estava a professora posicionada ao lado esquerdo da lousa encardida de cálculos.
- Kaio! Pensando na Bezerra?
Disse ela de onde estava, notando meu devaneio.
- Oi? Quê?
Falei, acordando para a vida.
- Preste atenção na aula, assim vai reprovar novamente.
- Pela quarta vez, "murmurei".
Enfim, aquela é era a hora "x" do meu dia. Desde ontem eu estava pensando nela...
De repente o sino tocou, dei graças a Deus e corri da sala, nem esperei a frequência. Só pensava nela, ela era minha motivação para enfrentar aquele dia. Minha mãe havia me dito que seria as 19:00 horas e eu chego em casa umas 18:30. Lembro o que a mãe disse: "Venha logo! Ela não vai te esperar"...
Nossa! já era quase 18:00 horas e eu ainda não tinha saído da escola. Realmente ela não podia esperar. Como uma coisa tão linda, cheirosa e gostosa podia esperar por mim se eu demorasse tanto?
Corri bem rápido para a parada de ônibus, olhei no relógio e já era 18:30 e eu já não aguentava aquela sensação de atraso e de que iria perder a chance de vê-la como eu queria ver. Mas dez minutinhos e lá vem o ônibus.
Dei sinal e ele parou, entrei e disse ao motorista: "Vá o mais rápido possível, ela não vai me esperar". Então ele foi o mais rápido possível. Quando cheguei na minha parada, desci e corri o mais rápido. Dobrando a esquina levei uma topada, falei um palavrão e cheguei! Já no portão, ofegante, gritei:
- Cadê ela, mãe?
- Acabou de sair do forno, da forma que você gosta, quadrada e quentinha…
Proferi uma palavra linda e entrei.
- Mãe, sua lasanha é maravilhosa!