João José – O Jotajota
(Contos – Drama/Comédia)
 
Dizem que, não é de boa saga, àquele que nunca teve um fusca, que nunca tomou café, nunca bateu uma pelada e/ou nunca pegou com outro uma namorada. Você agora deve estar imaginando em que quadrante está envolvido, é ou, não é?! Sim, serve pra homem e pra mulher... rsrsr ... , mas deixa pra lá. Jotajota, era assim que o nosso protagonista gostava de ser chamado, assinava assim, fez até registro em cartório, quando o chamavam de João José ele emburrava. Do colegial até a faculdade fez acordo com todos os professores “JJ” senão ele não respondia presença. Pronto não se se fala mais nisso... o porquê, você vai ler.
 
Pois bem, nosso amigo parecia ser um predestinado teve tudo isso acima descrito, mas onde realmente tornou-se notável foi na última alternativa. Meu Deus, quanta tristeza. O fato é que Jotajota tinha tudo para não ser merecedor desse infortúnio, desde sempre foi um sujeito, pacato, bem apresentado, boa família, bons costumes, simpático, conversador, sincero, honesto, trabalhador e solícito sempre a toda hora por quem quer que fosse. Tinha realmente um bom coração. Mas essas coisas que se manifestam na cabeça da gente (que Deus me livre) são como raio de temporal não tem hora nem local pra cair, muito menos a quem vai atingir.
 
Tudo começou quando ainda bem jovem arrastou asas para uma moreninha, sua vizinha; de boa família, amigos comuns, frequentavam a mesma igreja, comungavam da mesma hóstia, sempre se reuniam para aniversários, quermesse paroquial, tal e tal como fazem as tradicionais famílias; todos gostavam de João José. A mocinha, todavia, era muito esperta gostava do assédio do rapaz, mas não deixava escondido os olhares para os outros fãs, coisa que incendiava de ciúmes o então protótipo daquilo. Não gosto nem de falar... e Ele andava assim, um olho na gata e outro na rapaziada, sempre obstruindo passagens; tentando segurar pra si a garota; até aparecer na rua um sujeitinho por nome de  Elestério Ronaldo, vindo do Rio/RJ, cheio de ginga, fala diferente e uma tara miserável. Ao contrário de Jotajota então João José adorava o seu primeiro nome e era assim que ele gostava de ser chamado, dizia que o nome era romântico, sensual e o deixava excitado quando uma garota o chamava pausadamente. E-les-té-rio... rssr... Eu, hein!
 
Mas a garota se fez de bacana e não foi na lábia do malandro, continuou namorando com João José, embora o espertalhão não a deixasse em paz, sempre com piscadinhas, bilhetinhos, uma gracinha aqui outra ali e assim ia minando o terreno. Ela então aproveitou-se de uma pequena desavença por conta dos ciúmes do considerado e falou: Olha João José; - é não desconfia de mim não, por que se eu quisesse, aquele carioquinha só vive me paquerando. Pronto, o rapaz se inquietou e não perdeu parada, foi tomar satisfações com o tal carioca e aí o bicho pegou, saiu caçando o gaiato e já imaginando o cara esfolado estendido na rua; saiu pensando: - vou quebrar esse miserável, deixa ele, pensa que é assim; mal chegou já quer passar a mulher dos outros.
 
Quando enfim o avistou, Elestério foi logo aliviando e se aproximando falou para o hoje Jotajota; tua gata acha que to na dela, mas o que eu tava querendo era falar contigo, cara, bora ali quero te falar umas paradas. João José perdeu o rebolado e pensou: - será que ela tá com invenção?! Olhou direito pro concorrente e continuou pensando: - Mas se eu perder para esse cara eu vou ganhar de quem?! Os dois sentaram-se numa mesa no bar da esquina e “Elê” como se apresentou, dizendo que para os amigos mais chegados era assim que o chamavam, pagou umas cervejas para o noviço e conquistou sua simpatia; disse que sabia tocar violão e se dispôs a ensinar o novo “amigo”, levando-o ao mundo imaginário dos famosos e prosseguiu: - rapaz, tocar violão e dançar bem, é a chave pra ganhar mulher e eu gostei de você, daqui pra frente vamos ser “Brothers”! E o João foi na dele.  Esqueceu a briga com a namorada e depois até pra ela gabava o sujeito, era Elê pra cá, Elê pra lá, por que Elê é isso e aquilo, Elê faz isso aquilo e aquilo outro; parecia dominado por uma entidade a favor de Elestério.
 
A menina esfuziada com tanto merchandising passou a amolecer pras investidas do carioquinha, mas para manter a postura ficava nas meias palavras. Certo dia próximo de seu aniversário, nas tratativas com o ainda João José, ela sugeriu que o convidasse à sua casa no dia da festa e assim foi feito. Dia “D”, tudo lindo, muita comida, muitos convidados e entre estes, quem... quem..? Isso mesmo, E-les-té-rio, de roupa diferente dizendo que era a última moda no Rio, um envelope brilhoso nas mãos e um violão debaixo do braço, passou direto rumo a aniversariante que estava acompanhada da mãe e de mãos dadas com João José. Abriu um sorriso, num gesto de delicadeza e respeito cumprimentou a mãe da moça, e artisticamente, inclinando-se, reverenciou o casal, sorriu pra João José e estendeu a mão com o presente pra garota. Em seguida falou: - Desejo melhor sorte pra você, aceite que é de coração.
 
João José pensou: - Que melhor sorte ele está querendo dizer, mas tentou corrigir o próprio pensamento; - Ele quis dizer “a melhor sorte” e prosseguiu pensando, já rindo: - esses cariocas falam ruim pra caramba, só manjam mesmo é de gírias, a moça fez que nada ouviu, mas ficou curiosa com o presente e falou: - Vou abrir posso? - Claro, por favor, faço questão disse o conquistador. Estava ali, já em suas mãos o primeiro livro de poesias do meu Poeta favorito Vinícius de Morais “A uma menina com uma flor”; Ela ficou deslumbrada e não poupou agradecimentos, poxa, que lindo! Adoro poesias e do Vinícius, então! Estava louca por esse livro, muito obrigada, muito agradecida, alargou o sorriso e abraçou o investidor, no mesmo instante que ele elogiou o seu perfume e acrescentou só quero cantar uma música pra você. Ela rubrou a face. O malandro pensou: - meio caminho andado.
 
- Não deixe faltar nada naquela mesa, disse a festejada para os garçons, apontando a mesa que “Elê” estava sentado. E tome comida bacana pro expert cerveja a vontade e vez ou outra Ela passava perguntando se ele estava sendo bem atendido: - por favor, se preferir outra bebida é só pedir dos garçons, aí tem da pinga ao whisky bom; ela sorria e ia embora, ele fazia pose de galã. João José vinha atrás seguindo a moça dava uma paradinha rápida e prosseguia no encalço da menina e Elestério em seus pensamentos já ensaiando a canção que ao seu ver seria o golpe fatal na donzela e acrescentava: - “Quero é ver, ou não me chamo Elê”. E a festa rolando, mas ele não dançava com ninguém, parecia ter ido realmente determinado a conquistar a garota.
 
Quase chegando a hora do jantar a moça do cerimonial subiu no palco improvisado ergueu os braços e com a mão esquerda pediu pausa da banda, em seguida João José pegou o autofalante: - Amigos, tenho um presente surpresa pra minha namorada, quero que meu amigo recém chegado do Rio em tournée pela nossa cidade, cante uma canção que eu gosto pra Ela e anunciou Elestério. Este se fez de surpreso, pois não sabia que a garota tinha falado de sua intenção para o seu antagonista, malandro em causa própria não perdeu o rebolado, fingiu surpresa ao inédito e subiu no palco e disse rindo: é isso que se espera dos amigos, uma saia justa pra mim, né?! Mas fico feliz por isso, vou pedir que eles dancem pra gente.
 
João José arregalou os olhos, pois ainda não sabia dançar direito, mas a garota o incentivou e foram para o meio do salão. Elestério tocou e cantou emocionadamente uma canção da época “Coração de Papel”. Enquanto os dois dançavam a moça cruzava o olhar com o cancioneiro e o bobo do João se esforçando pra não pisar no pé da namorada. Mais uma canção e a menina derreteu-se toda. Um pouco mais tarde, não deu outra coisa, a noviça sumiu, João José procurou-a por todos os cantos e nada; subiu para o segundo andar a fim de olhar o jardim e viu o que nunca esqueceu, sua namorada aos beijos com o seu suposto amigo.  Quando a moça voltou ele manteve-se calmo e nada falou, inventou uma desculpa e foi embora, ela não impôs resistência e terminou a noite com “Elê” mesmo as escondidas.
 
O namoro de João José ainda demorou umas semanas, ele guardando consigo essa desilusão sem que a garota soubesse que ele sabia do ocorrido, e pior, que ela se encontrava com seu amigo as escondidas, vivia assim mantendo o convívio com ambos mesmo sentindo-se traído, mas se confortava pensando, melhor repartir mel a comer merda sozinho, até o dia que a moça descobriu que ele sabia da cachorrada e terminou o namoro com os dois.
 
Mas parece que o rabo do cão tinha passado por sua vida, sempre que começava um namoro com uma garota, o amigo aparecia e Krau, também comia o pão da mesma padaria e Ele foi se acostumando assim. Pra ele já era normal. Depois não era mais apenas com o amigo era qualquer um, sempre aparecia um sócio. Até um dia Ele chegar com o taberneiro da sua rua e contar da sua falta de sorte: - Poxa Carlão, gente boa tu sabes que eu sou, mas rapaz eu tenho um chama pra mulher sem vergonha que tu nem imagina, e asseverou: - todas, eu to dizendo todas, que namoro elas me fazem de leso, não conseguem ficar só comigo, tô quase desistindo de mulher bonita, vou pegar só as feias agora quero ver se elas também são assim.
 
O Carlão olhou pra ele, limpou as mãos no jaleco, ajustou os óculos, pôs a mão esquerda no ombro dele e com ar de sacerdote lhe falou: - Não é isso não meu filho, o problema tá no teu nome “João José”. Ele se assustou e disse: - Mas como?! É nome de dois santos, não pode ser. Carlão voltou a falar: - santo, santo, santo coisa nenhuma, isso é lá na Palestina, nas Arábias, lá praquelas bandas, aqui meu filho, João é bobo e José é Zé leso; por isso, pode ver. João José ficou pensativo: - será?! E o Carlão se virou e começou a ri sozinho escondendo o riso. Carlão voltou-se pra ele e ressaltou: - E não adianta tu procurar mulher feia não, isso é praga que já vem de berço e continuou: - vou te contar uma história, tinha um cara aqui com esse mesmo problema; ele resolveu namorar uma perneta daquelas que puxa uma perna e arrebita a bunda, poucos dias depois um cara saiu com ela e  ele soube. João José perguntou: - E o que Ele fez?! Carlão respondeu: - Nada, absolutamente nada; só chegou com o cara e perguntou dele: - Meu amigo me responda uma coisa pelo amor de Deus, por que eu não aguento mais ser traído, o que diabos você viu nessa mulher. O Cara olhou pra Ele e disse: - nada não vi nada, mas aquela frescura dela de andar arrastando a perna e arrebitando a bunda, cara, aquilo me deu uma vontade, foi por isso. João José se espocou de ri e pensou: - o que eu preciso mesmo é me divertir. João José ficou com aquilo na cabeça e adquiriu a mania de estar sempre passando a mão na testa.
 
No dia seguinte pensou: - Vou pro cinema quem sabe uma comédia vai me fazer bem, depois eu resolvo o que fazer, afinal tem gente com problemas maiores que o meu. Olhou os classificados do Jornal; comédia com Jerry Lewes, não contou conversa se mandou pra lá. Ingresso, pipoca etc... e se penitenciou: - Não vou olhar pra ninguém, nem se Marilyn Monroe sentar do meu lado, ri é isso que eu preciso. A comédia contava a vida de um empresário que era humilhado pela mulher gorda, feia e vaidosa, embora toda a fortuna pertencesse a Ele, depois de vários momentos hilários o Jerry protagonista do filme abre os olhos do então patrão com uma frase: “Senhor o Homem deve ser na sua casa como um galo de campina, lá quem canta é Ele”. O filme toma outro rumo o Homem se veste de macho e toma atitudes para resolver a sua vida. O nome desse personagem era JOTAJOTA se era João José não sabemos.
 
Foi assim que João José a partir daquele dia adotou para si o nome de Jotajota se continuou a ser traído... isso é outra história.
 
 
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Música vídeo:
https://youtu.be/2BJ8GcpKKW4
Luiza Possi – Coração de Papel
 
 

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