Não Sei Ainda
Luiza acordou com a cabeça cheia de planos naquela manhã quente de verão. Tinha uma vontade enorme dentro de si de fazer alguma coisa grande. Mas o que seria isso que Luiza tanto queria? Olhou para a estante de livros, respirou e sentiu o ar inspirador de seu quarto entrando em seus pulmões. Vestiu-se e desceu para o café.
Na mesa encarava seu pai que lia as notícias enquanto tomava o café da manhã. Ele baixou o jornal e olhou para a filha perguntando-a:
-O que foi, filha? Por que tanto me olha?
-Estou com grandes planos hoje, papai.
-E que planos são esses, filha?-indagou o pai.
-Vou começar a escrever meu primeiro Best-Seller.
-Que sorte eu tenho. Minha filha tem apenas doze anos e já vai escrever seu primeiro livro. E sobre o que será esse seu Best-Seller? Pode me contar?
A menina ficou em silêncio olhando para o pai, pensando. Após alguns segundos respondeu:
-Não sei ainda.
Naquele mesmo dia após o almoço Luiza foi até a casa de sua avó com a mãe. Chegando lá, encarou avó que preparava um chá na cozinha.
-Por que tanto me olha, minha neta? O que está pensando?- perguntou a avó com um sorriso no rosto.
-É que hoje estou com grandes planos, vovó –respondeu Luiza - Vou começar a escrever meu primeiro romance, que vai ser um Best-Seller.
-Que interessante. E como vai chamar seu livro?
-Não sei ainda.
Depois de tomar o chá, Luiza brincava no quintal com seu primo Júlio. Ela o encarava da mesma forma que encarou o pai e a avó. O primo incomodado perguntou:
- O que foi prima? Porque tanto me olha?
-É que hoje estou com grandes planos. Vou começar a escrever meu primeiro livro.
- Você tem cada idéia, Luiza. Já sabe que nome terá seu livro?
- Não sei ainda.
Chegando em casa, Luiza entrou para seu quarto, pegou uma folha, uma caneta, e começou a escrever seu tão sonhado romance. Imaginava como começar aquela história, que palavras usar, como seria o roteiro, como seriam os personagens, onde se passaria.
Á noite, após o jantar, conversando com seus pais, disse a eles:
-Comecei a escrever meu Best-Seller.
-Escreveu quantas páginas. –perguntou o pai.
-Consegui escrever apenas as três primeiras palavras.
-Que legal. Posso ler?
-Pode sim, vou pegar no meu quarto.
A garota mostrou ao pai, que leu em voz alta para a filha e a esposa escutarem:
-Era uma vez... – o pai deu um sorriso e disse- meus parabéns, filha, é um bom começo.
No dia seguinte a garota escreveu mais três palavras, depois três frases. Após uma semana já tinha três parágrafos.
Dez anos depois Luiza estava na livraria de sua cidade procurando um romance para ler quando foi abordada por uma jovem de óculos com cabelos loiros, que disse:
-Oi, tudo bem? Você é a Luiza?
-Sim, sou eu.
-Prazer. Acabei de ler seu livro, é um verdadeiro Best-Seller, todos estão falando muito bem dele. Pena que não puder ir ao lançamento pegar um autógrafo.Estava fora do país semana passada. Você pode fazer uma dedicatória para mim num exemplar?
-Sim, claro.
Ao terminar de fazer a dedicatória na terceira página do livro, a escritora fechou-o, e admirou a capa que mostrava seu nome, Luiza Albuquerque, e o título do tão elogiado e bem vendido romance: Não Sei Ainda.
FIM