MEL NÃO É SÓ DOÇURA...
       Osvaldo era um mineirinho falante que trabalhava na fazenda onde morávamos. Alegre, tocava violão, era uma espécie de faz tudo. Trabalhava na roça, cuidava do gado, tirava leite. Era peão de confiança do meu pai.  Eu passava as férias escolares e feriados prolongados na fazenda com meus pais e irmãos, e com o tempo desenvolvemos uma boa amizade. Um dia após percorrer os pastos vistoriando o gado, me chamou de lado e disse que tinha encontrado uma colmeia de “Abelha Europa”, num lugar fácil de tirar o mel. Pediu permissão ao meu pai e combinamos a empreitada. Meu Pai se esquivou logo "Eu não vou, se vocês quiserem podem ir". Eu confiando na experiência de Osvaldo não perguntei muita coisa. No dia seguinte levantamos as quatro horas da manhã. Fazia um frio miserável, estávamos em julho. Meu Pai havia aconselhado que fôssemos bem cedo pois com frio, as abelhas  ficam  “encarangadas”. Após uma caminhada de uns dois quilômetros, Osvaldo apontou para a encosta de um morro e disse. "é ali". Subimos devagar, a lua cheia dava uma força. começamos a entrar numa mata rala  e logo a frente havia o toco de uma árvore derrubada, com altura de um metro do chão. Era oco, e lá dentro estava a colmeia. Fomos aproximando devagar. A pedido de Osvaldo, peguei um saco de esterco de gado que havíamos levado e joguei no chão em volta do toco. Tão perto que ouvia zumbido de algumas abelhas. Deveriam ser as sentinelas dando o alarme. Pusemos fogo no esterco e logo uma nuvem de fumaça densa cobriu o toco. Enquanto esperávamos a uma distância segura, percebemos grande quantidade de abelhas deixando a colmeia. Assim que o zumbido diminuiu, Osvaldo atacou. Segurava na mão um tabuleiro de alumínio onde iria depositar os favos de mel. Criei confiança e fui junto.  Meu destemido amigo, com os olhos lacrimejando devido a fumaça, enfiou a mão dento da colmeia para retirar os favos. Nessa hora descobrimos que as abelhas haviam deixado  para trás um poderoso exército para defender seus domínios. Osvaldo resistindo a umas duas ou três picadas, puxou um favo  grande e colocou no tabuleiro. Aí  o enxame remanescente partiu para cima de nós com uma fúria avassaladora. Fiquei sem ação até a terceira picada, só então saí correndo e as abelhas atrás de mim, eu dando tapas no ar, na cabeça, nas orelhas. Corri até a beira de um pequeno açude onde o gado bebia água. Parei um pouco sem fôlego. Osvaldo correu em outra direção e sumiu. Ainda na beira do açude recebi mais duas picadas nas costas. Não tive alternativa, pulei dentro d'agua e fiquei uns vinte minutos submerso, só com a cara de fora. Ouvi de repente Osvaldo me chamando. Respondi baixinho com medo das abelhas escutarem. Ao me encontrar dentro do açude, Osvaldo caiu na gargalhada. Nesse momento percebi que estava tão frio que eu não podia me mover. Eu sim, estava "encarangado", precisei da ajuda dele para sair da água. Tremia e batia queixo. Voltamos devagar para a sede da fazenda com a cara deformada pelas picadas. Mas como Osvaldo tinha corrido com o tabuleiro na mão, tínhamos naquele solitário favo, a prova de que havíamos tentado. Então me lembrei de perguntar "Quantas vezes você já tirou mel no mato?". O mineirinho riu amarelo e confessou  "Foi a primeira! ".  Daquele dia em diante passei a achar mel muito enjoativo.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 01/02/2019
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