A razão do silencio

Nos anos oitenta, em uma de nossas viagens, à procura de terras para comprar, eu e meu amigo Toninho estávamos indo de ônibus, de Goiânia para Araguaína; pois nosso companheiro já estava lá com a camionete. O tal ônibus era daqueles que parava em tudo o que era entrada de fazendas e porteiras que tinha pelo caminho, o calor não precisa nem falar, era a sauna ambulante.

Nessas paradas, entrava no ônibus, gente com galinhas vivas peiadas passadas no cambau, outro com porco amarrado pelo pé, outro com saco de arroz para beneficiar, outro com saco de feijão para vender, e assim ia. O ônibus para quarenta e seis passageiros, com mais de sessenta pessoas, fora a carga extra.

Eu e o Toninho estávamos num dos bancos da frente, víamos tudo o que se passava durante a viagem. De tão ruim que era acabava sendo até divertido, pois era uma falação, porco gritando, galinha amarrada querendo botar, criança chorando, etc.

Numa das paradas, entrou umas pessoas que pelo silencio que se fez no ônibus, deduzimos que tinha ali alguém importante ou muito respeitado. Cada um se acomodou como podia. Passado um certo tempo o silêncio foi quebrado com uma pergunta, que nós depois vimos que era pra uma das pessoas que tinha entrado e provocado aquele silêncio.

Então deu-se o seguinte diálogo: -Oh cumpadi Belarmino, conta de novo pra nois, cumé que se deu a estória de baixinho.

- A estória de baixinho foi a seguinte: o pai dela, matou o pai de baixinho, baixinho matou o pai dela e ela matou baixinho. Agora ela é minha muié, tá ali na porta do ônis.

Daí, eu e o Toninho entendemos o porquê do silêncio.

Luiz Antonio Piccoli
Enviado por Luiz Antonio Piccoli em 09/01/2019
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