DEVANEIOS
Sentada na cama, Melissa folheava seu diário calma e atenciosamente, fazia a leitura de trechos que lhe prendiam a atenção e por alguns segundos olhava sua imagem no espelho como procurasse entender e descobrir naquela mulher, os motivos que a levaram escrever palavras, hoje sem nenhum sentido. No fundo do cesto de lixo algumas folhas amassadas do diário. Abriu um pouco mais a janela, precisava de ar puro. Sentia-se sufocada.
O cabelo solto sobre os ombros, a blusa colada ao corpo, tudo incomodava.
Tinha casado e não tivera filhos. A separação veio antes. O homem a quem havia declarado frases de amor, não estava mais ali. O cesto de lixo, pela metade com folhas amassadas.
Levantou-se foi até a janela, ali do quinto andar, ficou por alguns instantes olhando o mundo lá fora. Balançou a cabeça negativamente e com pressa, voltou para a cama.
- Não. Isso não era solução. Murmurou baixinho.
Tirou a blusa e abriu o zíper do short. Precisava sentir-se leve. Respirar profundo. Por alguns segundos permaneceu de olhos fechados e ao abri-los, encarou mais uma vez, o espelho.
- Seria aquela a Melissa do futuro?
Livre de devaneios. Serena. Sem preocupações.
Foi até a cômoda, prendeu o cabelo e nua, dirigiu-se ao banheiro. Após o banho, envolveu seu corpo com a melhor roupa, melhor perfume e no íntimo vestida da Melissa do espelho.
Sorridente e decidida abriu a porta e caminhou para a rua.